Marta Saraiva, estudante de Medicina na República Dominicana, está desde sábado a prestar auxílio, num hospital campal, às vítimas do sismo que terça-feira devastou o Haiti, confessando-se “impressionada” com o cenário.
“É um cenário impressionante, que chega até a ser arrepiante, mas depois desta experiência ainda fico com mais vontade de ser médica. É nestes cenários que se percebe a verdadeira dimensão e a real importância desta profissão”, contou à Agência Lusa, Marta Saraiva, natural de Paredes de Coura, que está acompanhada de mais três estudantes portugueses.
O hospital campal foi improvisado na localidade de Jimani, na fronteira entre a República Dominicana e o Haiti. “Foram quatro horas e meia de viagem, desde a capital da República Dominicana [Santo Domingo] até aqui. Foi chegar e começar logo a trabalhar, desde tratar feridas a colaborar nas cirurgias, passando também por algum acompanhamento psicológico aos feridos e aos familiares”, afirmou Marta Saraiva.
Neste momento, naquele hospital estão já cerca de 100 médicos e muitos outros voluntários, que não têm tido mãos a medir para responder ao constante número de feridos que para ali são transferidos, depois de receberem os primeiros socorros no Haiti.
Marta Saraiva confessou que um dos casos que mais a impressionou foi o de uma criança com cerca de dois anos, a quem tiveram de amputar um pé, depois de um “pesado bloco” lhe ter caído em cima.
O pessoal médico e auxiliar para ali deslocado é, ainda, “obrigado” a funções de psicologia, nomeadamente para aquelas situações em que os feridos perguntam por familiares que, muito provavelmente, morreram no sismo. “Há aqui um menino que se farta de perguntar pela mãe, só que da mãe não temos qualquer notícia. Temos de disfarçar e tentar acalmar a criança, mas que é angustiante, lá isso é”, disse ainda Marta Saraiva.
As dificuldades de comunicação entre pessoal médico e vítimas têm sido superadas graças à “preciosa ajuda” de um rapaz com cerca de 10 anos, que fala espanhol e crioulo. “Anda sempre connosco, vê coisas que poucas crianças da sua idade vêem e já diz que tem a certeza que quer ser médico”, conta Marta Saraiva.
Com 21 anos de idade, Marta vai permanecer naquele hospital campal até terça-feira. “Nunca me vou esquecer desta experiência”, declara.