França: Dois portugueses e um francês vão ligar Wittelsheim a Calvinos de bicicleta

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   Fernando da Silva refere-se à viagem como “uma aventura louca”, que nasceu da relação de amizade entre dois portugueses e um francês e de uma promessa feita há algum tempo. A aventura vai começar a 10 de Julho, em Wittelsheim, França, e termina em Calvinos, concelho de Tomar. Pelo caminho, os «aventureiros» vão percorrer mais de dois mil quilómetros… de biclicleta.
Fernando e Thierry, que é invisual, numa tandem (bicicleta de dois lugares) são acompanhados por Manuel numa viagem que termina a 1 de Agosto e cuja organização contou com a ajuda de empresas e particulares, franceses e portugueses.


Fernando da Silva, conta que a “ideia um pouco louca” do percurso Wittelsheim-Calvinos surgiu a partir de uma viagem de férias que fez a Portugal com a sua família e a de Thierry. Ao ouvir o amigo francês comentar que tinha “gostado muito do país” e que gostaria de voltar um dia, Fernando lançou-lhe o desafio. “Disse-lhe que, se quisesse, íamos, mas dessa vez, de bicicleta”, recorda, acrescentando que a proposta foi logo aceite.
A longa experiência como ciclistas – participaram em várias competições, como a Tour Alsace 2008 – ajudou à tomada de decisão de se «lançarem à estrada» numa viagem de mais de dois mil quilómetros, percorridos em 23 dias, ao longo de 20 etapas. Fernando e Thierry vão cumprir o percurso numa bicicleta de dois lugares, acompanhados de perto por Manuel, treinador e mecânico da equipa.
Enquanto angariavam os apoios necessários a uma viagem dispendiosa, os ciclistas cumpriam um plano de treinos que se iniciou em Abril do ano passado e que nem o Inverno rigoroso da região onde vivem, interrompeu.
“Com a neve e o gelo raramente se consegue treinar com a bicicleta, mas mantivemos os treinos nas piscinas públicas da autarquia de Cernay, que nos permitiu fazermos os treinos gratuitamente, duas a três vezes por semana”, explicou ao Fernando da Silva ao Mundo Português.
Os treinos com as bicicletas foram retomados em Março e serão cumpridos e forma mais intensa a partir de Junho. Para já, e até ao fim de Maio, treinam três vezes por semana, num total de cerca de 250 quilómetros semanais. A partir de Junho a preparação intensifica-se e passam a treinar todos os dias. “Tem que ser, porque senão depois o corpo não aguenta”, explica Fernando, sublinhado que durante a viagem vão cumprir em média, percursos diários de mais de 100 quilómetros. “São 20 etapas, a maior com cerca de 140 quilómetros num dia e a menor de 90 quilómetros”, revela ainda.

Apoios de empresas
e amigos

Fernando diz que a preocupação inicial sobre a capacidade de reunirem todo o material necessário, foi rapidamente ultrapassada. Amigos e familiares incentivaram-nos a apresentar o projecto às empresas da região e os apoios começaram a aparecer.
“Não estávamos à espera de receber tanto”, confessou o emigrante português, recordando que as mais de 20 empresas que colaboraram, “foram dando, umas mais outras menos” e que acabaram assim por conseguir adquirir “quase tudo”. “O projecto está quase concluído, neste momento não há nada de que ainda precisemos”, disse ainda. O apoio fez-se sentir também junto da comunidade portuguesa de Wittelsheim e das cidades em volta, e duas das empresas que deram apoio monetário pertencem a portugueses.
Entre os apoios desde a primeira hora destaca o da «Vaincre par le sport» (Vencer através do desporto), uma associação criada em 2008 por um grupo de amigos de Thierry Keller e afiliada à Federação Francesa Handisport (FFH). A associação tem por objectivo colocar à disposição de Thierry Keller (surdo e cego), os meios materiais e financeiros necessários para a prática desportiva.
Para além do apoio monetário, que vai permitir pagar, entre outros gastos, a alimentação, o combustível dos carros e as estadias, os três amigos receberam de uma associação a bicicleta de dois lugares em que vão fazer o percurso. Uma loja de material desportivo ofereceu as peças de reserva para as duas bicicletas.
“A bicicleta dupla teve que ser adaptada, porque era básica. Foi preciso mudar várias peças, que foram oferecidas por uma loja assim como o material de reserva. Porque para cada bicicleta, trazemos todas as peças em duplicado”, explicou Fernando da Silva, sublinhando que este donativo foi fundamental para a realização da «aventura». Só a bicicleta tandem custa cerca de seis mil euros.
Outro apoio importante foi o empréstimo, por uma empresa da cidade vizinha de Cernay, das duas auto-caravanas que vão acompanhar os três ciclistas e nas quais seguem as suas mulheres. Para além de todo o apoio logístico ao longo da viagem, têm funções definidas: Marie-Christine, cozinheira, será responsável pela confecção das refeições; Mauricette, massagista, tem como missão manter os ciclistas “em forma durante todo o desafio”; Fabienne, com formação de secorrista pela Cruz Vermelha, vai estar “de prevenção” para qualquer problema físico que possa surgir.

Dificuldades na montanha

A equipa optou por pernoitar nos parques de campismo ao longo da viagem. Neste momento estão na fase de reserva dos parques em França e Espanha, mas em Portugal a escolha já foi feita, com a ajuda da autarquia de Penamacor e da Junta de Freguesia de Cernache do Bonjardim, locais com parques de campismo e que integram as etapas portuguesas do percurso.
Fernando e os amigos sabem quais as dificuldades que vão enfrentar e confiam nos treinos que têm realizado, para as superar. Temem a chuva que possa fazer-se sentir e sabem que os percursos mais exaustivos vão ser os de montanha. “O percurso mais difícil deverá ser em Espanha, na travessia dos Pirinéus”, explicou ao Mundo Português, acrescentando que em Portugal, entre Castelo Branco e Tomar, “poderão haver algumas subidas de maior esforço”.
Nada que os tenha assustado e que em nenhum momento colocou em causa a continuação da tal “ideia um pouco louca”. No dia 10 de Julho, vão contar com a actuação do o Grupo Folclórico de Portugal em Mulhouse e será o presidente da Câmara de Wittelsheim a dar a partida aos três aventureiros.
“Temos coragem. O Thierry está muito contente e para mim é também um desafio. Chegar ao meu país de origem e à minha aldeia natal de bicicleta, é algo extraordinário”, revela Fernando.

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