Entrevista: “Tentamos encontrar em varias países junto das comunidades portuguesas jogadoras de mai

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Com apenas 29 anos, Mónica Jorge é, há dois anos, a Seleccionadora Nacional de Futebol Feminino. Em entrevista ao O Emigrante/ Mundo Português, a única mulher em Portugal com o nível 4 do curso de treinadores da UEFA, fala abertamente sobre o futebol feminino a nível interno, do seu papel como seleccionadora e da integração de várias jogadoras luso-descendentes no seu grupo de trabalho. Um grupo onde afirma: só entram as melhores, estejam em que países estiverem.

Sempre foi uma mulher do desporto?
Sim, sempre desde pequena que um dos maiores passatempos era o desporto e ainda hoje o é.

É uma das referências do futebol feminino português. Tem essa noção? Sente que as pessoas apostam em si para mudar o futebol feminino?

Não, não tenho essa noção, tanto que até hoje não conseguimos, como equipa, muita coisa, algumas vitórias, algumas boas prestações, ainda não temos muitos sucessos alcançados mas acredito que caminhamos nesse sentido, assim como acredito que só o sucesso trará referências. Apenas conseguimos captar a atenção das pessoas para uma modalidade que já é muito praticada em Portugal, mas a que as pessoas ainda dão pouco valor ou estão pouco atentas. Por isso, não me considero uma referência, apenas uma das “imagens” das selecções nacionais femininas! Se apostaram em mim, é lógico que é para contribuir para uma evolução, fiquei então com uma obrigação e uma responsabilidade acrescida para fazer mais e melhor pela modalidade. Essa aposta foi um privilégio mas também é uma enorme responsabilidade e um desafio constante, mas a vida é feita de desafios, ganham-se uns, perdem-se outros.


Foi jogadora e agora é treinadora. Como é representar a selecção?

Como jogadora nunca cheguei a patamares tão elevados, apenas como atleta individual. Começando apenas como Treinadora Assistente já era um orgulho para mim, representar esta casa “mãe” do futebol português. A primeira vez que ouvi o hino ao serviço da selecção nacional, vieram-me as lágrimas aos olhos, porque sabia que era especial e nunca o sentiria em mais lado nenhum. É uma forma de ser e de viver, as emoções ao serviço do País são as mais sentidas, as mais vividas e por vezes as mais duras e difíceis de apagar.


Como está o futebol feminino no nosso país?

Vai melhorando, não tão depressa como ambicionaríamos, mas vai-se fazendo “caminho”. Há muito para fazer, para se estruturar, para se alterar em certos patamares para que este evolua num sentido positivo e consistente. Temos muitos valores em Portugal e queremos rentabilizá-los ao máximo. O futebol feminino em Portugal tem uma margem de progressão enorme e um futuro promissor. O futuro do Futebol Feminino vai ser, em grande medida, aquilo que todos aqueles que estão directamente envolvidos – Federação, Clubes, dirigentes, treinadores, atletas – quiserem que ele seja. Se, por exemplo, as recentes alterações aos quadros competitivos resultarem – como estamos certos que resultarão – então poderemos assistir. Mas é preciso mais. É necessário que as Associações Distritais e Regionais e os Clubes apostem de outra forma no Futebol Feminino e que se criem condições de trabalho, nomeadamente para os escalões de formação. É um trabalho árduo, mas aliciante na mesma medida.


Somos um país muito ligado ao futebol. Tem pena que não se ligue muito ao futebol feminino? Acha que há preconceito?

O futebol é o desporto n.º1 neste País, mas ainda muito “marcado pelo masculino” ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, que as referencias são jogadoras femininas. O preconceito existe, mas nunca o sentimos tão acentuado como algumas pessoas o fazem ver ou prever! Felizmente é cada vez menos em Portugal, tudo está a mudar! As atletas da Selecção Nacional têm por hábito conviver bem com esta situação, não é algo que as preocupe, afinal os países latinos são um pouco machistas por uma cultura que lhes foi imposta! Apenas se concentram num único objectivo: “o competitivo” e querem mostrar ao país que têm valor e orgulho para representá-lo ao seu melhor nível, querem mostrar que o futebol feminino apesar de ser um “Futebol” diferente do masculino, é aliciante jogá-lo, vivê-lo e “conhecê-lo”!

O preconceito infelizmente existe em muitos meios sociais assim como no desporto, independente da forma como se manifesta! Mas felizmente a nova geração de adolescentes que praticam desporto são já “educados” de uma forma racional e mental em relação ao direito da paridade e da igualdade para todos! É uma base ideológica muito importante para quem é desportista e para quem obviamente irá viver em sociedade! Por isso acredito que esta juventude irá mudar o país em certos contextos, e assim o próprio país irá “crescer” com eles nestes valores! Como alguém dizia: A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original (Albert Einstein).


Acha que se os denominados “grandes” aderissem a atenção ia ser diferente?

Sim, de facto o futebol feminino ganhava outra abrangência e ambicionamos que isso um dia aconteça. Mudaria muito a imagem e a ambição do futebol feminino em Portugal. Era um grande passo nesta modalidade.

Se a selecção feminina estivesse numa grande competição seria mais elogiada? Um pouco como aconteceu com a selecção de rugby.

Claramente, e um dia isso irá acontecer. Acreditamos muito nisso. O Desporto em geral faz-se e vive-se ainda muito no masculino. A mudança de mentalidades começou ainda há muito pouco tempo mas já é uma realidade. Para vivermos uma situação idêntica passará também pela nossa Selecção Nacional Feminina atingir um patamar mais elevado ou o mesmo a nível competitivo da Selecção Nacional – Clube Portugal.

Só em situações pontuais – como é o caso do Mundialito- Algarve Cup , é que a Comunicação Social dá algum relevo ao Futebol Feminino. Mas, como sabemos, o “trabalho” de chamar a atenção para a nossa Selecção passa, acima de tudo, por nós próprios, pela obtenção de resultados de relevo. Infelizmente em Portugal só o sucesso atrai sempre os media, por isso o sucesso trará sempre o mediatismo.


No estrangeiro o Mundialito – Algarve Cup que se realiza no Algarve tem um grande prestígio. Porque acha que isso não se reflecte a nível interno?

Desde há 2 anos para cá, já começou a ter algum mediatismo na comunicação social portuguesa, porque também a FIFA lhe atribui grande importância e a partir daqui a própria FPF também já gere o seu marketing à volta do Torneio e o valoriza como tal. Mas infelizmente nos anos anteriores isso não acontecia, e a publicidade à volta deste era escassa e os media muitas das vezes nem sabia que este se realizava em Portugal. Felizmente isso agora mudou.


Como chegou a seleccionadora? Em que consiste o seu trabalho?

Vim estagiar profissionalmente para a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) com apenas 22 anos no meu 3.ºano de faculdade, licenciei-me em Desporto de Alto Rendimento. Acabei por ficar na instituição e já vai para 9 anos esta bonita ligação a esta “casa mãe” do futebol português. Estive 7 anos como Treinadora Assistente e este último ano e meio como Seleccionadora Nacional Feminina.

Passo muito tempo a trabalhar em prol do desenvolvimento do futebol feminino e das nossas Selecções Nacionais, quer em casa no portátil da minha secretária (tenho essa sorte, poder trabalhar em casa) quer no Departamento Técnico e Formação da FPF. São muitas horas ao computador, já não vivo sem ele, é uma relação amor/ ódio.

Depois, aos fins-de-semana, temos as observações técnicas coordenadas por mim, para que eu mesma e mais dois treinadores assistentes que colaboram comigo nas Selecções Femininas, observarmos jogos/jogadoras nos campeonatos existentes (I, II Divisão e Distritais).  É todo um trabalho de equipa, que vou coordenando dentro das possibilidades. Elaboramos projectos, decisões, contextos para o panorama actual do futebol feminino e depois fazemos também todo o plano anual das selecções nacionais femininas, quer Sub-19 quer “A”.

Mensalmente mantemos também contacto com as jogadoras que jogam fora do País em campeonatos estrangeiros para puder acompanhá-las emocional e tecnicamente.

À parte de tudo isto tentamos também encontrar em varias países junto das comunidades portuguesas, jogadoras de mais valia e que sejam bons reforços para as nossas selecções nacionais.


Como é que está a ser a experiência?

Está a correr bem, obviamente que nem sempre são fáceis as tomadas de decisões, as escolhas, as situações a resolver, mas são momentos que fazem sempre parte destes contextos… Estou e estarei sempre a aprender. Neste último ano e meio aprendi muito enquanto Seleccionadora, se erro admito e corrijo, porque só assim poderei evoluir como pessoa e como treinadora.

Depois a equipa técnica e o staff que dirijo dá-me a mim e às jogadoras muita confiança, trabalha no sentido de melhorar constantemente as práticas e metodologias de treino para que nos possamos apresentar da melhor forma em cada jogo, e isto é fundamental na gestão de um grupo de trabalho e facilita a aprendizagem constante de parte a parte.


A aposta na formação é na sua opinião fulcral para que o futebol feminino evolua?

Obviamente que sim. Vamos tentar já na próxima época, se assim for possível, iniciar projectos neste âmbito tendo em conta, os novos quadros competitivos que irão entrar em vigor. A ideia é nunca descurar a formação no futebol feminino, antes pelo contrário, esta é e vai ser a base do futuro do futebol feminino em Portugal. A nossa equipa técnica está bem consciente em relação a esse ponto fulcral.


Que apoios tem a selecção nacional?

A FPF é o maior suporte financeiro e gestor das selecções nacionais, que apoia todas as suas Selecções Nacionais da mesma forma, com especial carinho, respeito e dedicação.

Mas este suporte não passará só pela FPF e UEFA, também passará pelos Clubes e Associações Distritais junto das jogadoras seleccionáveis. Directamente terá maior responsabilidade a FPF, posteriormente apoiada depois pelas intuições regionais e distritais, obviamente.

Ana Rita Almeida

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