O anúncio da aquisição foi feito nas Caldas da Rainha pelo próprio primeiro-ministro, José Sócrates. O grupo Visabeira adquiriu por 300 mil euros 76% do capital das Faianças Artísticas Rafael Bordalo Pinheiro, tendo injectado ainda mais 1,5 milhões de euros para aumento do seu capital social. Uma operação que permitirá viabilizar aquela empresa caldense mantendo os 172 postos de trabalho e que conta com a ajuda do Estado que disponibilizará à Visabeira uma linha de crédito…
O negócio agora concluído foi sugerido pelo próprio Governo à Visabeira quando esta se mostrou interessada em comprar a Vista Alegre, mas Paulo Varela, administrador do grupo sedeado em Viseu, diz que este não foi um negócio imposto por ninguém.
“A Bordalo Pinheiro não é uma condição imposta no pacote da Vista Alegre. Necessitamos de dimensão e de massa crítica neste sector e se a opção não fizesse sentido em termos de rentabilidade económica, não a teríamos tomado”, disse.
Decisivo no papel de mediador entre o governo, a Visabeira e a administração e trabalhadores da fábrica, foi Vera Jardim ( ex-ministro da justiça) que é sócio minoritário da Bordalo Pinheiro (possuía uma quota de 1,6 por cento que ficou agora ainda mais reduzida) e cuja actuação foi elogiada por todos.
Nas várias intervenções, que tiveram lugar numa sala da empresa decorada com peças bordalianas, nem o administrador da Visabeira, nem Pinho, nem Sócrates referiram que o número de trabalhadores da empresa se manteria, uma promessa que só seria proferida por Paulo Varela quando questionado pelos jornalistas. Durante as intervenções Sócrates e Manuel Pinho, em perfeita sintonia, repetiram várias vezes que há duas maneiras de encarar a crise: uma através de um discurso “lamechas” de “descrição negativa da crise” e outro em que as pessoas se empenham na procuram de soluções. O Ministério da Economia chamou a si a gestão deste processo ao longo dos últimos meses, empenhando-se em salvar uma empresa histórica para o país.
A solução passa agora para o grupo com sede em Viseu, que assim passa a gerir a fábrica de cerâmica das Caldas da Rainha. Com 125 anos de existência, a Bordalo Pinheiro parou a produção em Dezembro, com o número de encomendas a não ser suficiente para a viabilização da empresa.
Nos últimos meses têm sido levadas a cabo várias diligências no sentido de salvar a empresa, com iniciativas por parte da Caixa Geral de Depósitos e dos hipermercados E.Leclerc, que se disponibilizaram a vender peças da fábrica centenária, onde, recorde-se, ainda existem centenas de moldes originais de Rafael Bordalo Pinheiro.
Também a Câmara Municipal das Caldas da Rainha se disponibilizou a ajudar a Bordalo Pinheiro, tendo, em Maio de 2008, comprado uma parte da fábrica por 900 mil euros. Os últimos 200 mil euros foram pagos pela autarquia em Janeiro.