O prémio de Melhor Actriz de Teatro Musical, atribuído pelo portal de espectáculos Whatsonstage, de Inglaterra, teve “um significado muito especial” para a portuguesa Sofia Escobar. Três anos depois de ter deixado Portugal para estudar canto e representação na Guildhall School (a mais conhecida escola de artes de Londres), o galardão coroa a dedicação com que se entregou ao papel de «Maria» em «West Side Story», a coragem de ter deixado a segurança que lhe proporcionam a família e os amigos na sua Guimarães natal e os sacrifícios que teve que fazer no início da vida em Londres. A decisão de estudar em Inglaterra – que a levou a contrair um empréstimo para pagar os estudos e suportar as despesas, mostrou-se acertada: aos 28 anos, Sofia Escobar é uma actriz respeitada pela crítica inglesa e reconhecida pelo público. Em entrevista ao Mundo Português, conta como tem sido o seu percurso e revela o desejo de trabalhar em Portugal e representar “em português”… |
Sofia Escobar diz que a música e a representação, sempre fizeram parte de si.
Desde os tempos de infância, quando as brincadeiras incluíam concertos e a criação de personagens. Mas só muito mais tarde confirmou que esse seria o percurso profissional que a faria verdadeiramente feliz.
Estudou música e interpretação em Guimarães, a terra natal, e continuou os estudos no Conservatório de Música do Porto. Depois, entre continuar a formação em Lisboa e «rumar» a Londres, optou pelo segundo percurso. Uma decisão que exigiu sacrifícios, já que a família não podia comportar os custos da estadia de Sofia em Londres. Teve que recorrer a um empréstimo bancário para suportar as despesas e, após as aulas, chegou a trabalhar como empregada de mesa num restaurante.
Entretanto, a elevada prestação que teve nas provas de acesso à escola de artes Guildhall School, permitiu-lhe ficar isenta do pagamento de propinas durante o curso.
Oito meses até «Christine»…
Dos primeiros tempos na capital inglesa, onde chegou em 2005, Sofia recorda a saudade da família e dos amigos e ainda do mar. Mas sublinha que nunca sentiu qualquer tipo de descriminação por ser estrangeira, num país onde, afirma, não é necessário ter “«cunhas» para se ser bem sucedido”.
Estava já a estudar na Guildhall quando arriscou participar nas audições para o papel de Christine Deel, no musical «O Fantasma da Ópera», como suplente da actriz principal, depois de ter lido um anúncio num jornal londrino. Teve que esperar muito tempo até receber o telefonema que mudou a sua vida e deu um grande impulso à sua carreira.
“Foi um processo muito longo, oito meses de audições”, como recordou ao Mundo Português, até ser escolhida para o papel que lhe permitiu em 2007 pisar o palco do West End e representar a principal personagem feminina num dos mais míticos de sempre: quando «O Fantasma da Opera», de Andrew Lloyd Webber, estreou em Londres, em 1986, Sofia Escobar tinha cinco anos. O musical está em palco até hoje, é considerado o mais visto de sempre e mantém o sucesso de público ao longo de mais de 20 anos.
O trabalho que realizou como «Christine» levou-a a participar noutro musical e a ser novamente protagonista, mas de uma personagem diferente – a energética «Maria», em »West Side Story». Passou da representação de um papel no qual não podia ter nenhuma pronúncia portuguesa, para outro onde canta com um ligeiro sotaque espanhol, já que a personagem «Maria» tem ascendência porto-riquenha.
Um prémio “muito especial”
E foi a sua actuação como «Maria» que chamou a atenção dos críticos musicais ingleses que a seleccionaram para concorrer ao prémio de Melhor Actriz de Teatro Musical atribuído pelo portal de espectáculos britânico Whatsonstage. A actriz portuguesa concorreu com outras quatro protagonistas, entre as quais Elena Roger, que venceu este ano o prémio Laurence Olivier, na mesma categoria.
Na votação on-line feita pelo público e que teve a participação de cerca de 35 mil pessoas, Sofia chegou a estar em segundo lugar, atrás de Connie Fisher, uma actriz de musicais muito popular em Inglaterra. Mas acabou por ser a eleita, com 35,8 por cento dos votos (Connie Fisher reuniu 24,9 por cento dos votos). O prémio foi uma surpresa para a actriz, que considerava já uma vitória ter sido nomeada “no meio de grandes talentos”. E teve ainda um sabor especial por ter sido atribuído pelo público. Conta que sempre que tem “um dia menos bom”, olha para o prémio, que lhe foi entregue no dia 15 de Fevereiro, no Teatro Prince of Wales.
Também em Fevereiro, Sofia Escobar foi seleccionada para os Prémios Lawrence Olivier, também na categoria de Melhor Actriz de Teatro Musical, pelo seu desempenho em «West Side Story». Desta vez não ganhou, mas sublinhou não estar “de maneira nenhuma” desiludida, tendo preferido recordar o momento “de grande adrenalina” que viveu, na noite de 8 de Março, durante a entrega dos prémios.
Perante uma plateia que incluía grandes nomes do teatro e do cinema em Inglaterra, Sofia Escobar voltou a encarnar «Maria». Cantou e encantou. “Foi um momento mágico”, disse ao Mundo Português.
Actualmente em digressão com o musical «West Side Story», a actriz portuguesa não sabe ainda o que se seguirá na sua carreira, mas vai iniciar em Maio, audições para outros projectos. “Estou muito entusiasmada”.
MP: Qual a sua formação musical? Sempre sentiu que queria estar ligada à música e à representação?
SE: A paixão pela música e representação sempre fizeram parte de mim, olhando para trás lembro-me as minhas brincadeiras de criança incluírem concertos e personagens distintas.
Mas, só muito mais tarde, me dei conta de que esse seria o caminho que me faria feliz.
Foi então que comecei a investir na minha formação. Primeiro na Academia de Música de Guimarães, mais tarde no conservatório de música do Porto e por fim, Guildhallschool, em Londres.
Como foram os primeiros tempos em Londres? Sentiu alguma vez dificuldades por ser uma actriz estrangeira?
As dificuldades que senti foram apenas dificuldades pessoais, ou seja, saudades de casa, da família e amigos, saudades do mar.
Nunca senti qualquer tipo de preconceito por não ser Inglesa. Felizmente por cá não é necessário ter as chamadas “cunhas” para se ser bem sucedido, o que é verdadeiramente essencial é o talento.
Foi longo o processo até à sua escolha para o papel de «Christine»? Teve que fazer alguma preparação especial?
Foi um processo muito longo, oito meses de audições.
No inicio eu encarei as audições como algo de leve apenas para ganhar experiência, mas à medida que me fui apercebendo que eles estavam de facto muito interessados, tornou-se muito sério, pensar que cada vez estava mais perto de realmente pisar um palco do WestEnd com um papel de sonho.
A.G.P.