As autoridades alemãs continuam sem pistas quanto ao desaparecimento de um engenheiro português em Berlim, a 10 de Janeiro, apesar dos consideráveis meios envolvidos nas investigações, disse hoje à Lusa o director nesta área da polícia criminal berlinense.
"Ultimamente, investigámos o meio profissional em que Afonso Tiago estava inserido, voltámos também a interrogar alguns amigos e conhecidos, sem no entanto termos conseguido recolher novos indícios significativos", referiu o inspector Hans-Joachim Blume.
As diligências policiais junto do gerente e de outros funcionários da Active Space Technologies, filial berlinense de uma empresa de Coimbra onde o jovem engenheiro mecânico estava a concluir um estágio, destinaram-se a averiguar a hipótese de ele ter sido vítima de um rapto, se fosse eventualmente detentor de segredos que estivessem sob a mira de espionagem.
Segundo Blume, a polícia, que envolveu no caso entre 15 a 20 investigadores quase a tempo inteiro, concluiu, no entanto, que esta hipótese é praticamente de excluir.
Na verdade, o jovem licenciado "estava a desempenhar tarefas relativamente simples, na base da hierarquia" da empresa, sublinhou o inspector alemão.
Esta informação foi confirmada à Lusa pelo gerente da empresa, Ricardo Nadalini, para quem as tarefas confiadas a Afonso Tiago "exigiam conhecimentos e um alto nível e envolvimento, mas não tinham nada de secreto, é um trabalho que um graduado com seis meses de experiência pode fazer".
O desaparecimento continua assim envolto em mistério, não só porque Afonso é tido como pessoa muito responsável, com uma carreira profissional brilhante pela frente, "mas também porque não há indícios nenhuns de que tenha havido um crime", disse Blume à Lusa.
O inspector berlinense adiantou que a polícia solicitou entretanto, a nível judicial, autorização para consultar o sistema de vídeo-vigilância do multibanco junto ao qual Afonso se despediu às 03H40 da madrugada de 10 de Janeiro de um amigo que tinha estado com ele num bar, dizendo-lhe que ia para casa, onde nunca chegou.
"Tentaremos assim obter indicações mais precisas sobre a direcção que Afonso Tiago tomou quando se separou da última pessoa conhecida a vê-lo", explicou o inspector.
Além disso, a polícia solicitou também autorização para recorrer a meios mais modernos destinados a localizar os dois telemóveis que Afonso Tiago tinha consigo, um de um operador português e outro de um operador alemão.
As investigações já feitas neste sentido permitiram constatar que os dois telemóveis foram registados pela última vez nas imediações da estação ferroviária de Ostbahnhof e de uma ponte sobre o rio Spree que Afonso teria de atravessar no caminho a pé para casa.
A polícia, no entanto, quer agora ir mais longe e tentar localizar os telemóveis, independentemente do cartão de operador com que estão a ser utilizados, e de estarem ou não ligados, processo mais sofisticado, que também por isso requer autorização judicial.
"Queremos excluir a possibilidade de que os telemóveis que ainda estejam a ser utilizados", explicou o inspector Blume.
As buscas no Rio Spree com mergulhadores, iniciadas há algumas semanas, foram interrompidas devido à baixa temperatura das águas, que continua perto dos zero graus centígrados, e também à má visibilidade, que não permite ver mais do que a um metro de profundidade.
"Temos de partir do princípio que Afonso Tiago sofreu um acidente, mas também não podemos garantir inteiramente que foi isso que aconteceu", afirmou o director do departamento de delitos sobre pessoas da polícia criminal berlinense.
A família e os amigos de Afonso Tiago, que são de Oliveira de Azeméis, colocaram milhares de cartazes e distribuíram folhetos em Berlim com a fotografia do jovem engenheiro, para tentar obter informações sobre o seu paradeiro, até agora sem resultados.
A imprensa alemã, sobretudo a televisão regional de Berlim, mas também vários jornais de expressão local e nacional, têm falado também regularmente sobre o caso, noticiado ainda nos ecrãs das carruagens de "Metro" de Berlim, que cobre quase toda a cidade.