O ano de 2008 ficou marcado pela ameaça de ausência do FC Porto na Liga dos Campeões. Depois de muitas guerras de bastidores, a UEFA que numa primeira decisão tinha afastado os Dragões, voltou atrás e permitiu que os azuis-e-brancos entrassem na Liga Milionária. Benfica e Vitória de Guimarães acabaram por se conformar depois de se terem “unido” contra os Dragões nesta luta jurídica.
O campeonato nacional foi conquistado com os históricos 20 pontos de vantagem sobre o Sporting, reduzidos a 14 quando o processo «Apito Final» chegou à fase conclusiva. O FC Porto mostrou-se pouco preocupado com isso e, com alguma indiferença, aceitou a penalização de seis pontos.
Os factos eram antigos (época 2003/2004), mas só em Fevereiro passado o Apito Dourado chegou a julgamento e só em Maio a Comissão Disciplinar da Liga avançou para as suas condenações. Para o FC Porto, com o campeonato virtualmente assegurado, a penalização de seis pontos, anunciada a 9 de Maio, parecia inofensiva dada a vantagem pontual e talvez por isso mesmo não deu lugar a recurso.
Ao contrário da União de Leiria, castigada com três pontos, que afundaram ainda mais o clube no último lugar, e do histórico Boavista, a quem foi imposta a descida de divisão, empurrando mais ainda o emblema “axadrezado” para um abismo na era “pós-Loureiros”, com problemas financeiros que quase levaram ao seu fim puro e simples.
João Loureiro (Boavista) e João Bartolomeu também eram castigados pela justiça da Liga, tal como Pinto da Costa. Mas neste aspecto o presidente do FC Porto recorreu, insatisfeito com a punição pecuniária e com os dois anos de suspensão.
Guerra nos corredores da UEFA
Pouco tempo faltou para que fosse o “estratégico” não recurso do campeão a tomar conta das atenções, no defeso. Isto porque começou a questionar-se se o FC Porto teria direito a ir à Champions ou não.
E a “guerra” começou… O Vitória Guimarães e o Benfica, terceiro e quarto no campeonato, logo atrás do Sporting, lançaram-se na luta pelos seus interesses que se poderiam criar com um castigo da UEFA ao FC Porto: os vimaranenses entrariam directamente na fase de grupos da Liga dos Campeões e o Benfica ia à pré-eliminatória. Uma semana depois da decisão da CD da Liga, a UEFA dava sinais de que poderia mesmo punir o FC Porto, que na justiça desportiva portuguesa aceitara uma condenação por tentativa de corrupção.
De facto, não havia “fumo sem fogo” e, a 4 de Junho, o comité de controlo e disciplina da UEFA acaba por excluir mesmo o FC Porto da “Champions”, invocando um dos critérios de admissão na prova, previsto no seu regulamento: “não pode estar ou ter estado envolvido em alguma actividade destinada a combinar ou influenciar o desfecho de um jogo (…)”.
Os clubes recorrem então aos melhores advogados e intensificando-se o jogo de influências, tanto do lado do FC Porto como do Benfica, e até do Vitória de Guimarães.
A 16 de Junho, o FC Porto vence a primeira batalha, com a UEFA a considerar não haver “em tempo útil” (para avaliar a admissão) uma eventual decisão final na justiça desportiva portuguesa – onde corria o recurso de Pinto da Costa (para o CJ da FPF), que poderia obrigar à reapreciação do processo relativo ao clube. No entanto, o Benfica e o Vitória de Guimarães não desarmaram, prolongando aquilo que já começava a ser a mais intensa batalha entre “encarnados” e “azuis-e-brancos” em palcos que não o terreno de jogo.
O passo seguinte era ir para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS). Entrando com “recursos urgentes” contra a decisão da UEFA, à espera de uma ainda possível ida à “Champions”. Um sonho que não duraria muito, já que a 15 de Julho o TAS respaldava a decisão do organismo europeu do futebol. O acórdão só seria dado a público volvidos dois meses, mas por aquela via o FC Porto saía claramente vencedor.
A nível interno as decisões não eram tão pacíficas e, a 4 de Julho, o Conselho de Justiça federativo confirmava as penas numa reunião insólita sem presidente, depois de este dar por encerrada uma reunião.
A Federação recorreu ao jurista Freitas do Amaral para dar um parecer, tendo este considerado “nula e sem efeito” a decisão de encerrar a reunião, confirmando depois a direcção federativa o quadro de sanções, nomeadamente a descida do Boavista, que poderia inquinar o bom arranque do novo campeonato.
O FC Porto ia mesmo à “Champions” e até está a fazer boa figura ganhando o grupo. O Vitória de Guimarães falhou essa fase por um grave erro de arbitragem em Basileia e o Benfica teve que se contantar com mais uma Taça UEFA, de que não fica com boas recordações.
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