O julgamento do processo de pedofilia da Casa Pia de Lisboa recomeça hoje com o advogado do principal arguido, Carlos Silvino, a apresentar as alegações finais de defesa do seu cliente. José Maria Martins deve ocupar todo o dia a argumentar a favor do ex-motorista da Casa Pia, a quem o Ministério Público (MP) deu como provados mais de 150 crimes de abuso sexual de crianças da instituição.
Silvino é o único dos sete arguidos do processo que assumiu a quase totalidade dos crimes de que está acusado e incriminou os restantes, assegurando que os testemunhos das vítimas são verdadeiros.
Na última sessão, realizada há cinco dias, coube a Miguel Matias, advogado da Casa Pia e representante das vítimas, apresentar as suas alegações finais, no termo das quais pediu indemnizações dos arguidos às vítimas em valores cuja quantificação remeteu para o tribunal.
Quinta e sexta-feira desta semana decorrem as alegações finais dos advogados de defesa dos restantes arguidos, as quais serão retomadas apenas a 05 de Janeiro.
Numa contabilidade não oficial, compilada pelos jornalistas ao longo das alegações finais, o MP deu como provados 167 crimes de natureza sexual praticados pelo ex-motorista da Casa Pia Carlos Silvino e 16 crimes (15 de abuso sexual e um de peculato de uso) do ex-provedor adjunto da instituição Manuel Abrantes.
Em relação aos restantes cinco, o procurador João Aibéo deu como provados 23 crimes (19 de lenocínio e quatro de abuso) do advogado Hugo Marçal, 26 de lenocínio de Gertrudes Nunes, a dona de uma casa em Elvas onde decorreriam abusos de jovens casapianos, quatro crimes (três de abuso e um de acto sexual com adolescente) do apresentador de televisão Carlos Cruz, oito de abuso do embaixador Jorge Ritto e 12 crimes de abuso do médico Ferreira Diniz.
O julgamento do processo da Casa Pia, a decorrer actualmente no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, já dura há mais de quatro anos, ao longo de 400 sessões.