Naide Gomes ficou hoje "sem palavras" para explicar o surpreendente afastamento da final do salto em comprimento dos Jogos Olímpicos e, quase uma hora após terminar a prova, dizia que ainda estava "parva" e "sem sequer conseguir chorar".
A campeã do Mundo em pista coberta e detentora da melhor marca mundial do ano, com os 7,12 metros de 29 de Julho, no Mónaco, era uma das favoritas ao ouro, mas começou o concurso com dois saltos nulos e só fez 6,29 no terceiro, depois de uma corrida desastrada.
Foi apenas 32ª classificada no concurso, em que a última das 12 qualificadas para a final fez 6,60 metros, menos 52 centímetros do que o seu recorde nacional.
"Pus muito para trás e depois não consegui ajeitar. A corrida não deu certo. Estou mesmo muito triste… nem imaginam como. Nem consigo chorar, sequer. Ainda não acredito", revelou.
A 10 metros da chamada começou a travar e chegou a trocar o passo, admitindo no final que durante a corrida percebeu "que não ia dar" para se qualificar, o que conseguiria com um salto de 6,75 ou ficando entre as 12 primeiras da qualificação.
"Não sei, correu mal", respondeu Naide Gomes, quando lhe foi pedido para explicar o que acontecera. "Não há desculpas, correu mal. Eu e o meu treinador estamos imensamente tristes, porque trabalhámos, muito, muito, muito para chegarmos aqui".
Após o terceiro salto, ficou na pista durante mais de meia hora, sentada com ar desolado e a ser animada pelas adversárias. "Acho que tive mesmo muito azar. É incrível", afirmou.
"Elas disseram-me que era injusto, que eu estava muito bem. Mas isso acontece com qualquer um. Acontece com as melhores e aconteceu comigo hoje. É mais uma lição que eu tiro disto. Infelizmente, não tenho tido sorte com as competições ao ar livre", afirmou.
Naide Gomes, que foi quarta nos Mundiais de 2007, em Osaca, Japão, sublinhou, no entanto, que nas outras grandes competições ao ar livre pelo menos "ia sempre à final", enquanto desta vez nem isso conseguiu. "Não há palavras para descrever".
A atleta do Sporting, nascida há 28 anos em São Tomé e Príncipe, disse não saber há quanto tempo não falhava a qualificação numa grande competição internacional e reconheceu que, "sem dúvida", esta era a sua "grande oportunidade" para conquistar a medalha de ouro olímpica.
Naide garantiu que foi "lenta e controlada" nas corridas para os três saltos, "porque sabia que não era preciso muita velocidade para conseguir saltar".
Afirmando não fazer "a mínima ideia" do que aconteceu, adiantou que nos dois saltos seguintes foi puxando o balanço "mais para trás" e na última não conseguiu "controlar a corrida", tendo percebido na parte final que ia ser eliminada.
"Como é que eu vou explicar? não dá para explicar. Quando as coisas correm mal, correm mal. Já não dava. Puxei muito para trás e, talvez também por falta de confiança em mim mesma, aquilo não dava certo. E não deu certo. Já passou, é triste", referiu.
Naide Gomes, que vai permanecer em Pequim até 26 de Agosto, dois dias depois do encerramento dos Jogos, garantiu que vai tentar a presença em Londres2012, uma edição que se disputa quando tiver 32 anos: "certamente vou continuar, não desisto".
A família chegou hoje ao aeroporto da capital chinesa, mas não a tempo de se deslocar até ao Estádio Nacional, o "Ninho do Pássaro", para a ver actuar na qualificação.
"Chegaram hoje e não vão ver a final, mas acontece, é a vida. Vão passear. Acredito que a minha mãe esteja a sofrer muito", disse Naide Gomes, que vai "pedir desculpa" ao treinador Abreu Matos, a primeira pessoa com quem pretende falar.
O dia português no atletismo começou com Sílvia Cruz a terminar o concurso do lançamento do dardo na 24ª posição, com os 57,06 metros conseguidos no seu segundo lançamento, depois de 54,65 no primeiro e antes de um nulo.
A atleta do Sporting, nascida há 27 anos em Lisboa, ficou a 2,70 do recorde nacional que estabeleceu em 21 de Junho em Leiria, durante a Taça da Europa, e a 3,07 da 12ª e última qualificada para a final.
Após concluir a prova, manifestou-se muito satisfeita por ter competido em Pequim e por ter sido a primeira portuguesa a alinhar no concurso do lançamento do dardo nos Jogos Olímpicos.