O mundo voltou a olhar com apreensão para o Tibete, região controlada pela China, onde a sua população
luta pela autonomia, razão pela qual já morreram milhares de pessoas. A poucos meses dos Jogos Olímpicos em Pequim a ameaça de boicote ao evento promete ainda fazer correr muita tinta…
Durante o mês de Março a questão Tibete voltou à ordem do dia. Uma manifestação pacífica de monges que assinalava o 49º aniversário da maior manifestação de sempre contra o domínio chinês sobre o Tibete, acabou por se transformar num confronto onde a violência provocou vários mortos, lojas e carros incendiados e muitos feridos, além de várias detenções. Com os Jogos Olímpicos de Pequim à porta, a China acusa os manifestantes de tentar colocar a opinião pública contra o governo comunista chinês. Do outro lado da barricada, os manifestantes tibetanos defendem que este é o momento ideal para tornar público a repressão e violência que se vive no país…
O que despoletou o conflito entre o Tibete e a China…
Qual o interesse da China sobre o Tibete?
A ocupação chinesa sobre o Tibete tem interesses estratégicos e territoriais. A China alega soberania histórica sobre o Tibete e com isso tenta implantar no Tibete o modelo chinês, construindo prédios onde existem edifícios tradicionais. Seguindo a sua ideologia, no Tibete os importantes cargos em sectores de economia são ocupados por chineses, que são maioria. Veja-se o caso da cidade de Lhasa, capital do Tibete, onde menos de 25% dos 300.000 habitantes são tibetanos. Os chineses ocupam praticamente todos os cargos públicos e as profissões consideradas importantes para o desenvolvimento da região, como professores, bancários ou policias, não estão “acessíveis” aos tibetanos.
Refira-se que o interesse económico da China sobre o Tibete ocorre porque o solo desta região é rico em metais, como o cobre, zinco e urânio, e cujas reservas são suficientes para suprir até 20% das necessidades chinesas.
Quando é que tudo começou?
A ocupação chinesa deu-se em 1951 mas os primeiros conflitos entre os dois países começaram muitos anos antes. No século XII, o Tibete foi conquistado pelo império mongol. Em 1720, foi a China, durante a dinastia Ching, que invadiu o país. Em 1912, com a queda desta dinastia, os tibetanos expulsaram as tropas chinesas e declararam autonomia. Um ano depois, numa conferência realizada na India, britânicos, tibetanos e chineses dividiram o Tibete em duas partes: uma que se iria anexar à China e outra seria autónoma. O 13º Dalai Lama declarou oficialmente a independência do Tibete. No entanto, este acordo nunca foi ratificado pela China que continuou a reivindicar direito de posse sobre o Tibete. Em 1918 estalou um conflito armado entre China e o Tibete. A Rússia e a Inglaterra tentaram, sem sucesso, intervir. Em 1951, o Tibete acabou por ser integralmente ocupado pelas forças comunistas de Mao Tsé-tung, com o pretexto de libertar o país do imperialismo inglês.
O que reivindica o Dalai Lama?
O Tibete reivindica a autonomia do seu país exigindo liberdade de culto e a restauração do ensino da língua tibetana. A china recusa terminantemente estas exigências.
Quantas vítimas o conflito já provocou?
A ocupação chinesa é marcada pela destruição de mosteiros, pela opressão religiosa, pelo fim da liberdade política e pela detenção e assassínio de civis em massa. Estima-se que mais de um milhão de tibetanos já tenha morrido devido à acção do exército chinês. Os meios de comunicação são controlados por Pequim assim como qualquer tentativa de movimentação por parte dos tibetanos. Embora a liberdade de culto seja autorizada, ela é controlada pelo exército chinês que está sempre presente nos mosteiros e nos templos budistas. Como consequência estima-se que mais de 100.000 tibetanos se encontrem refugiados pelo mundo.
Qual a importância do Dalai Lama?
O Dalai Lama é o líder espiritual e político do Tibete. Segundo as crenças populares ele é a reencarnação do Buda. O actual Dalai Lama é o 14º foi nomeado prémio Nobel da Paz em 1989 pela sua luta pela autonomia tibetana. Este, assim como todos os outros Lamas que estão no poder desde o século XVII, foi escolhido entre crianças comuns pelos monges por meio de sonhos e presságios. Além do Papa, é a única pessoa a quem se atribui o título de Sua Santidade.
Porquê o nome Dalai Lama?
Dalai significa “Oceano” em mongol e “Lama” é a palavra tibetana para mestre, guru, e várias vezes referido por “Oceano de Sabedoria”, um título que começou em Altan Khan (o terceiro Dalai Lama). O nome tibetano do Dalai Lama é Gyawa Rinpoche que significa “grande protector”, ou Yeshe Norbu, a “grande jóia”.
Como é que o Dalai Lama exerce a sua função de chefe de estado?
O líder dos tibetanos assumiu a posição de chefe de estado em 1950 quando tinha apenas 16 anos. A sua missão passa por negociar a soberania do Tibete com o governo chinês. O actual Dalai Lama vive exilado há 49 anos e é a partir da India que luta pela preservação da cultura tibetana. Entre as medidas tomadas já criou: 53 campos agrícolas de larga escala para acolher os refugiados, idealizou um sistema educacional autónoma criando assim mais oitenta escolas tibetanas na India e no Nepal onde é ensinado às crianças a sua língua, história, religião e cultura e uma Constituição democrática para um Tibete livre.
Porque estalou a actual crise na região?
Os tibetanos saíram para a rua em Março deste ano para lembrar a grande revolta contra a China ocorrida a 10 de Março de 1959. Esta manifestação, ocorrida há 49 anos, resultou num saldo negativo de 87.000 mortos e a fuga de Dalai Lama que foi seguido por 100.000 tibetanos. Este protesto, ocrrido na capital tibetana de Lhasa, é considerado como o auge da resistência tibetana. Refira-se que o Dalai Lama tebe que deixar Lhasa em 17 de Março de 1959 por temer pela sua própria vida.
Qual a posição da comunidade internacional?
A Organização das Nações Unidas já se manifestou por várias vezes preocupada com os acontecimentos no Tibete. Em 1959, a ONU pediu “respeito aos direitos humanos fundamentais do povo tibetano e à sua vida cultural e religiosa”. Em 1961 e 1965, a ONU voltou a lamentar “a supressão da vida cultural e religiosa características” do povo tibetano. Em 1991 expressou-se “preocupada diante de continuadas denúncias de violações dos direitos e liberdades humanas fundamentais que ameaçavam a identidade cultural, religiosa e nacional distintas do povo tibetano”.
Como é que o Dalai Lama chama a atenção para a sua causa?
O Dalai Lama iniciou em 1967 uma série de viagens para divulgar a causa que já o levou a 42 países. Com estas viagens o Dalai Lama consegue a adesão de muitas personalidades que com a sua imagem garantem que a luta esteja na ordem do dia. Por exemplo, uma das suas viagens rendeu ao Dalai Lama a Medalha de Ouro pelo Congresso Americano, além da adesão à sua causa por parte de muitas estrelas de Hollywood.
O Dalai Lama já esteve em Portugal?
No passado mês de Setembro de 2007 o Dalai Lama esteve em Portugal numa visita que durou cinco dias. No último dia, Dalai Lama falou para 10.000 pessoas no Pavilhão Atlântico numa conferência dedicada «Ao poder do bom coração» onde apelou à paz, ao diálogo entre nações e à compaixão. Na altura, Dalai Lama teve encontros com o presidente da Assembleia da República Jaime Gama e com o ex-presidente da República Jorge Sampaio, além de alguns deputados. Mas este 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, já tinha estado em Portugal. De facto, visitou pela primeira vez Portugal em Novembro de 2001, tendo estado em Lisboa, no Porto e no Santuário de Fátima.
TIBETE
Área: 2,5 milhões km²
Capital: Lhasa
População: Cerca de 6 milhões de habitantes
Línguas: dioma chinês (oficial) e tibetano (mais popular)
Religião: Budismo
Moeda: Yuan
A.R.A
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