Os empresários portugueses do ramo alimentar na Venezuela dizem estar a sofrer “injustificadas pressões” das autoridades e pedem condições para continuar a comercializar os produtos.
As crescentes dificuldades para obter produtos alimentares como o leite, açúcar, queijos, café e frango, deixaram de ser a principal preocupação dos empresários portugueses do sector na Venezuela. A esta junta-se agora o problema de alegadas e “injustificadas pressões” das autoridades para com os comerciantes, que já começaram a causar mal-estar também nas próprias associações de vizinhos que por vezes tomam a iniciativa de defender os comerciantes.
Enquanto as autoridades dizem estar a combater o açambarcamento de produtos e o boicote, os empresários pedem condições para continuar a comercializar os produtos, queixam-se de excessivas fiscalizações e dizem que são acusados de açambarcamento, às vezes, até no momento em que recebem as mercadorias.
Foi o que ocorreu no dia 23 deste mês, na urbanização Los Cedros, a leste de Caracas. Durante quase seis horas, oficiais da Polícia Metropolitana de Caracas “retiveram” um camião com 500 caixas de leite de longa duração, que estava a ser descarregado no Supermercado Maturín, propriedade de um emigrante madeirense. “Conseguimos comprar leite, o camião chegou e estávamos a descarregar algumas caixas que vendíamos aos clientes, mesmo na porta. A polícia chegou, pediu os documentos e começou a pôr obstáculos à venda do produto, argumentando que o camião estava retido”, explicou à agência Lusa um dos proprietários. Natural de Câmara de Lobos, Madeira, António da Silva recusou-se a avançar com mais pormenores sobre o ocorrido, por temer represálias, e remeteu para os quase 100 vizinhos da urbanização que testemunharam as quase seis horas de “injustificada pressão policial”. “Isto é só injustiças. Se não fosse que tudo o que tenho na vida está aqui, agarrava o passaporte e ia embora (para Portugal)”, desabafou.
Fonte da Junta Comunal (associação de vizinhos) explicou à agência Lusa que na impossibilidade de acusar o comerciante de açambarcamento, a polícia exigiu documentos adicionais, que se requerem unicamente em casos de importação e tentou impedir que vendesse o leite argumentando que “era proibido vender fora do estabelecimento” e que “qualquer pessoa pode falsificar uma factura”. “Um dos oficiais chegou mesmo a dizer que não era o primeiro português que prendiam”, disse um dos quase cem vizinhos que rodearam o supermercado para impedir o “abuso policial”. No lugar estiveram dois funcionários do Serviço Nacional Integrado de Administração Alfandegária e Tributária (SENIAT) que constaram a legalidade dos documentos e também tiveram dificuldades para persuadir os polícias metropolitanos a desistir da acção de “retenção” do veículo com a mercadoria.
Vários empresários portugueses queixaram-se à Agência Lusa que, em algumas situações, funcionários da Guarda Nacional (polícia militar) acompanham os camiões dos fornecedores e permanecem nos estabelecimentos comerciais, ou junto dos veículos, até que os produtos como o leite sejam vendidos na totalidade.