A linha ferroviária do Tua foi restabelecida em toda a sua extensão no passado dia 28 de Janeiro. O comboio ‘inaugural’ partiu da estação de Mirandela e chegou ao Tua passadas duas horas, segundo informou José Silvano, autarca local e responsável pelo metropolitano de superfície de Mirandela, que continuará a assegurar a ligação ao serviço da Comboios de Portugal (CP).
Aquele foi mesmo o primeiro comboio a fazer todo o percurso da linha, com cerca de 60 quilómetros, desde o acidente de 12 Fevereiro último, há quase um ano, no qual morreram três ferroviários. Na altura, um desabamento de pedras sobre a linha fez descarrilar uma carruagem e desde este acidente que a ligação está suspensa entre a Brunheda e o Tua. Os trabalhos de reposição estão concluídos há três meses, mas a reabertura da linha só foi decidida numa reunião no passado dia 22 de Janeiro.
A CP anunciou entretanto que a reabertura foi “condicionada por restrições de circulação decorrentes do relatório técnico do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), nomeadamente ao nível da velocidade comercial dos comboios”. Na sequência de vistorias feitas à infra-estrutura depois do acidente e das reparações na linha, o LNEC recomendou que a circulação fosse feita, em quase metade da linha, em ‘marcha à vista’, a uma velocidade reduzida, que permita ao maquinista detectar qualquer obstáculo ou imprevisto e parar atempadamente.
A circulação foi agora retomada em toda a linha, com mais viagens. Para além desta oferta regular, a CP continuará a promover o serviço ‘charter’ para grupos, entre o Tua e Mirandela, assegurando resposta à procura turística, que re-presenta dois terços dos passagei-ros, segundo garantiu José Silvano.
Cerca de vinte mil pessoas viajam por ano no que resta da linha do Tua para desfrutarem da paisagem do vale do rio, que colocou esta ferrovia entre as linhas estreitas mais belas do mundo. A viagem de comboio de cerca de 60 quilómetros entre o Tua e Mirandela, que durava uma hora e meia, será agora mais demorada devido às novas limitações de ve-locidade. Ainda assim, esta realidade não preocupa o autarca local, para quem os turistas “não se importam com a velocidade a que o comboio anda (e) querem é desfrutar da paisagem”.
A reabertura do serviço surgiu depois de se terem gerado receios de que este troço não reabriria mais e de que o restante estaria também condenado ao encerramento. O motivo é a barragem projectada para a foz do rio Tua, que veio alimentar o fantasma do encerramento, uma vez que, segundo os estudos prévios, independentemente da cota que vier a ser adoptada, os últimos quilómetros da linha ficarão submersos, cortando a ligação ao Douro e ao litoral. Para já, os responsáveis entendem que “a barragem é uma questão para tratar a montante”.
A este propósito, o ministro do Ambiente, Nunes Correia, garantiu que as populações terão uma palavra a dizer sobre a cota da barragem a ser construída no rio Tua, afirmando que a opção final ainda não está tomada. “Tem de haver participação pública, que se adivinha ampla e será bem vinda”, disse o ministro, assegurando que se vão “ponderar vários valores e tomar a opção final”.
De facto, o ministro afirmou que há “várias alternativas” para a cota de água da nova barragem no Tua. No entanto, no seu entender, a opção passará sempre por escolher entre a barragem e alguns trechos da linha ferroviária do Tua. “Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal”, concluiu.