Austrália: Empresário português dá nova vida a estalagens

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José d’Oliveira e a sua mulher, Sandra, compram velhas estalagens e transformam-nas em estabelecimentos de sucesso. Uma paixão e um negócio que dura há 20 anos.

Comprar estalagens decadentes e transformá-las em restaurante de sucesso tem sido, nos últimos 20 anos, o negócio e a paixão do casal luso-australiano José e Sandra d’Oliveira.

O último investimento destes empre-sários foi no The Dover Castle, estabele-cimento que “nunca fechou” ao longo de 120 anos, segundo explicou José d’Oli-veira. Localizado em Richmond, Melbour-ne, e rebaptizado como Bouzy Rouge, a agora estalagem abriu há 7 semanas e está a ser um sucesso.

Sandra, australiana apaixonada pela história de cada estabelecimento em que os d’Oliveira investem, diz que “Richmond era um subúrbio de Melbourne nos anos de 1880, no início da industrialização. Ha-via muitos hotéis como este, onde ficavam as pessoas que vinham à cidade vender os seus produtos”. Muitos destes pequenos hotéis centenários, mais co-nhecidas por estalagens, “tinham um gran-de recinto na parte de trás, onde era pos-sível os hóspedes guardarem os reba-nhos e as manadas que traziam à cidade”. Mas nem só de gado e da tosquia vivia a hotelaria daquele subúrbio. As estalagens eram o sítio onde a classe ope-rária ia disfarçar o cansaço do dia de trabalho. Sandra descreve muito bem os hábitos da época: “porque bebemos tão depressa?”, pergunta. E dá a resposta: “as licenças de venda de bebidas sempre foram muito restritivas e os estabelecimentos não podiam servir álcool depois das 17 ou 18 horas. Quem saía das fábricas ou do emprego tinha muito pouco tempo para beber antes de ter que ir para casa”. Mas como quem bebe depressa se desgraça depressa, “os hotéis tinham o pas-seio e a sarjeta de forma a poder-se lavar facilmente à mangueira”, comenta Sandra.

O Bouzy Rouge é o quarto restaurante dos d’Oliveira. “De cada vez que deixa-mos um dos restaurantes juramos a nós mesmos que é o último e que vamos dedicar-nos a outra coisa”, conta José d’Oliveira. Mas depois, confessa, “alguém nos liga a dizer que tem um estabelecimento para nos mostrar. Pergunta se queremos ir ver. E nós vamos”.

Os restantes estabelecimentos do casal marcaram cada um a sua época na restauração de Melbourne. O primeiro hotel recuperado pelos d’Oliveira chamava-se Sir Robert Peel, “o nome do homem que inventou os ‘bobbies'”, a polícia britâ-nica. Depois foi a vez do The Commercial Club e do Hotel Prahan. “Foram sempre sítios que, quando entrámos lá a primeira vez, nos atraíram pela atmosfera e pela personalidade”, confessa Sandra.

O casal tem uma regra de ouro que faz questão de seguir em todos os seus estabelecimentos: “procuramos renovar o espaço, criando um restaurante de quali-dade sem alienar os bebedores que frequentavam o bar antes”, explica Sandra. Esta regra significou, por vezes, manter uma dupla clientela: elegante na sala, duvidosa no bar. De facto, Melbourne teve durante décadas um submundo agitado e sangrento. “Antes os problemas resolviam-se cara-a-cara. O chefe da polícia vi-nha de um lado do bar e encontrava-se a meio com o chefe dos ‘gangsters’ e discutiam as coisas”, diz a empresária. O casal conta, divertido, que José d’Oliveira perguntava “candidamente” aos ‘gangsters’ o que estes faziam e que estes “ficavam a olhar para ele”.

A regra, no entanto, manteve-se e mantém-se. Afinal, são também os frequentadores habituais que dão calor a um bar. Sandra d’Oliveira dá um exemplo: “uma vez perdemos por três dias a licença de vender bebidas porque eu não paguei a taxa a tempo. Havia um cliente que bebia sempre na mesma mesa e que, nesses dias, continuou a sentar-se à mesma hora, no mesmo sítio…a beber água”.

Numa outra ocasião, a empresária mostrou um velho jornal que tinha encontrado na estalagem a um cliente antigo e ele disse-lhe: “quase de certeza que fui eu que entreguei esse jornal aqui; era ardina em criança, nesta zona”.

Sandra assegura: “procuramos manter nestes locais a ligação íntima que tinham com a comunidade noutras épocas”.

E a crítica dá o seu aval: Tony Leo-nard, um crítico de restaurantes e uni-dades hoteleiras, escreveu um artigo sobre o Bouzy Rouge. “As primeiras impressões são as melhores”; esta “deve ser a melhor” das estalagens d’Oliveira, escreveu Tony Leonard.

Richmond perdeu já, como o resto da Austrália, a maior parte do operariado industrial de outrora. Hoje há serviços, há estudantes, há gente nova e velha. E há uma classe média a contas com as hipotecas e a subida dos juros que se verificaram durante os governos do primeiro-ministro John Howard. Realidades que se vão conhecendo na mesa e no bar do casal d’Oliveira.

O Bouzy Rouge, habitando o velho Dover Castle, enfrenta estas mudanças sem medo: os amigos do local já o propuseram para “Melhor Pub de 2007 – e mais além”.

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