Depois de Setúbal, onde por ocasião do 10 de Junho foi inaugurada a exposição «Terra longe terra perto» alusiva à emigração, a Gare Marítima de Alcântara recebe agora muito do mesmo espólio, para outra exposição. Trata-se de uma mostra de obras de arte, documentação, objectos de memória e fotografia, apontando os principais momentos emigratórios, desde o final do século XIX até aos anos 80 do século XX.
A Gare Marítima de Alcântara remete para os tempos em que tantos viram partir por via marítima os seus familiares, e isso mesmo esta exposição tenta mostrar em “o momento da partida”. Colocando no centro da narrativa os protagonistas desta história, esta exposição põe em relação a representação artística da emigração e a expressão cultural, vivencial e afectiva dos emigrantes e das suas comunidades.
Almada Negreiros e a representação, em tapeçaria de Portalegre, dos painéis da Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos, pinturas de Júlio Pomar, Domingos Rebelo e Vieira da Silva, desenhos de José Malhoa e Stuart de Carvalhais, esculturas de Simões de Almeida (Sobrinho) e Álvaro de França, entre outros, articulam-se, num projecto expositivo onde não faltam as “Torre Eiffel” da nossa memória.
«Traços da Diáspora Portuguesa» apresenta, ainda, materiais inéditos – documentação oficial, correspondência entre emigrantes e familiares, fotografia e objectos do quotidiano que, de forma inovadora, assumem um valor expositivo. Paralelamente, postos de exposição multimédia exibem documentários e fotografias relacionados com a temática da Emigração e Comunidades Portuguesas.
De destacar, ainda, a possibilidade de consulta de um DVD onde, de forma interactiva, o visitante tem acesso a uma colectânea de obras de arte, arte pública, cinema, literatura, escultura, pintura e música, de várias correntes e expressões artísticas, ilustrativos da forma como o tema da Emigração tem sido abordado através das artes.
A exposição estrutura-se tomando como referência as etapas da experiência emigratória – a decisão de emigrar, a escolha de um destino, a preparação da partida, a viagem, legal ou clandestina, a integração na sociedade de destino, a vivência nas comunidades, a recombinação de pertenças e a possibilidade, real ou imaginada, de um regresso. Neste último núcleo são apresentadas três maquetas de casas, cada uma delas representando uma “tipologia arquitectónica” de inspiração emigrante.
«Traços da Diáspora Portuguesa» é uma exposição organizada pelo Museu da Presidência da República, em parceria com a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, e conta com a colaboração da Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas; do Museu da Emigração e das Comunidades (projecto virtual da CM de Fafe); do Museu “Photographia Vicentes”, na Madeira; para além de vários outros museus nacionais e municipais; organismos das Regiões Autónomas; particulares, como a família Cabral de Mello dos Açores, que disponibilizou a sua vasta colecção; e, ainda, associações de portugueses residentes no estrangeiro, entre os quais a associação Mémoire Vive em França e o Museu dos Pioneiros, em Toronto.
O Emigrante/Mundo Português falou com o director do Museu da Presidência, Diogo Gaspar que fez o balanço da exposição de Setúbal. “Tivemos cerca de sete mil visitantes, o que para Setúbal é de facto uma realidade importante”, afirmou, acrescentando quee espera nesta exposição, também grande aderência de público. Diogo Gaspar referiu que “a exposição não se dedica somente aos emigrantes, é uma exposição sobretudo de afectos e memórias e destina-se a todos os que transversalmente viveram ao longo do século XX o fenómeno da emigração”.