À saída da Comissão de Orçamento e Finanças, no passado dia 16, o secretário de Estado Adjunto da Educação especificou que o número de alunos que estão a aprender português no estrangeiro passou de cerca de 61 mil para 64 mil, um aumento que considera ter sido possível graças ao crescimento de 1,9 por cento nas despesas deste sector.
No mesmo dia, o governante afirmou que está a ser preparada uma resolução do Conselho de Ministros para a criação de um grupo de trabalho técnico para repensar a estratégia do ensino de português no estrangeiro”.
À margem de uma reunião com o vice-ministro da Educação de Timor-Leste, Jorge Pedreira destacou que as alterações pretendem adaptar a língua portuguesa às novas realidades e afirmar-se como uma das mais faladas no mundo. “É preciso fazer sair o ensino de português dos meios onde tem estado integrado – universidades e em algumas comunidades -, apostar na consolidação da certificação da aprendizagem do português e fazer valer o português como uma das línguas mãos faladas no mundo. É a terceira língua ocidental mais falada no mundo”, afirmou.
Lembrando que o ensino de português resume-se a “leitorados, colocação de professores na Europa e algum apoio fora da Europa”, o secretário de Estado sublinhou que “já não estamos nos anos 70”. “As coisas estão diferentes. Temos de pensar na livre circulação de pessoas e na mobilidade. Hoje é possível que de um ano para o outro apareça uma comunidade de 30 mil portugueses” em qualquer país da Europa.
Dificuldades no ensino
Na Assembleia da República, ao apresentar os números ligados ao ensino, Jorge Pedreira ouviu o deputado social-democrata Pedro Duarte questionar o Governo sobre “os múltiplos casos de dificuldades” no ensino de português no estrangeiro, sublinhando o decréscimo real de investimento neste sector, uma vez que a subida de 1,9 por cento é inferior ao valor previsto da inflação. O secretário de Estado afirmou que “não há nenhuma desinvestimento” e que o ensino do português “continua a ser uma aposta”. Porém sublinhou “que é necessário repensar o ensino de português no estrangeiro”.
No início deste mês, a comunidade portuguesa de Kelsterbach, Alemanha, pediu ao Governo português a “nomeação imediata de professores para os cursos de língua e cultura portuguesa”. Num comunicado enviado ao «Emigrante/Mundo Português», a Comissão de Pais de Kelsterbach, sublinhava que os cursos “estão sem funcionamento desde o início do ano lectivo”, situação que afecta mais de 50 crianças luso descendentes. Os pais consideram que a actual situação tem “consequências extremamente graves para a identidade das crianças portuguesas” e classificam conduta do Governo português, “de grande irresponsabilidade”. O conselheiro das Comunidades José Pires Eduardo, disse à Lusa que a coordenação do ensino tinha sido avisada de que a professora que trabalhava em Kelsterbach se iria reformar, “mas por incrível que pareça o governo não abriu concurso para a substituir”.
Nos Estados Unidos, o conselheiro das Comunidades José João Morais, também veio a público criticou o Governo português pelo «desinvestimento» no ensino da língua portuguesa naquele país, lembrando que estão há dois anos sem coordenador. “Como é amplamente conhecido, o governo português não gasta um euro sequer em iniciativas de apoio ao ensino da nossa língua em todo este país há mais de 10 anos”, afirma o conselheiro, em comunicado. Contactado pela Lusa, José João Morais afirmou que “quem suporta o ensino são os pais, as associações, as igrejas e alguns mecenas”.
Para o responsável, o mais preocupante é o facto dos cerca de 17 mil alunos de português, entre escolas comunitárias e universidades, não terem um coordenador há dois anos. O conselheiro lamentava ainda que o Governo português não estivesse a investir no ensino de português numa altura em que “o interesse pela língua portuguesa cresce nos Estados Unidos e no mundo, com estudos que apontam para que ela venha a tornar-se a segunda língua mais falada em África e uma das cinco línguas fundamentais a apreender no futuro, segundo o Pentágono”.