João Loureiro renunciou hoje aos dois últimos meses de mandato como presidente do Boavista, manifestou desinteresse em continuar a liderar o clube e colocou em causa a permanência do treinador de futebol Jaime Pacheco. João Loureiro cedeu à "instabilidade no clube" e entendeu como melhor solução provocar eleições antecipadas, para que "os futuros dirigentes possam rapidamente tomar as decisões mais convenientes para o futebol", o que "seria inviabilizado caso se cumprisse o calendário, pois só em Janeiro os novos corpos sociais tomariam posse".
O presidente do Boavista, que vai gerir o clube até ao acto eleitoral, pretende que os novos dirigentes possam tomar decisões antes da reabertura do mercado de transferências, em Janeiro.
"Fi-lo depois de uma séria reflexão. Coloco em primeiro lugar os interesses do Boavista. Acho necessário clarificar a vida interna do clube, pois a instabilidade que se vive prejudica também a equipa de futebol e a instituição. Assumo as minhas responsabilidades e espero que os outros façam o mesmo", vincou. Entretanto, prometeu "apresentar todas as contas" antes do período eleitoral, que deve decorrer em "meados de Novembro".
João Loureiro não quer "antecipar cenários", mas revelou a intenção de interromper um reinado que dura desde 14 de Fevereiro de 1997: "Com toda a sinceridade e honestidade, o meu estado de espírito é para não me recandidatar. Mas não digo que desta água não beberei".
A sua decisão, que mereceu o apoio da Direcção, parece afectar também o treinador Jaime Pacheco, que não consegue tirar a equipa do penúltimo lugar da Liga de futebol com apenas quatro pontos em sete jornadas.
"Após a derrota de segunda-feira com o Belenenses (2-4), disse-lhe que devia reflectir se tem condições para continuar. Não vou tomar essa decisão, pois remeto-a para a sua consciência, também em função da avaliação do específico momento do Boavista. O Jaime é um homem honesto e íntegro, pelo que entendo que é pessoa indicada para essa avaliação", disse.
Agastado com a instabilidade que se tem vivido nos últimos meses, com constantes ataques de diversos sócios à sua gestão, João Loureiro considera que "esta é a altura para os boavisteiros pensarem no que querem".
"Está na altura de se perguntarem mais sobre o que podem dar ao Boavista do que o que o clube lhes pode dar a eles. Dar mais do que receber. Há alguma gente a trabalhar e muitos a exigir", lamentou, prometendo, caso saia do clube, dar o "máximo apoio e informação" aos seus sucessores.
Loureiro evitou falar nos motivos da instabilidade que se vive no Boavista: "São uma série de factores, mas não vou apontar o dedo, pois isso não é positivo. Estou empenhado é na união do clube e dos boavisteiros e vou manter essa postura até ao último dia".
João Loureiro descartou a possibilidade do seu pai, Valentim Loureiro, voltar à presidência: "sinceramente, acho que isso está completamente fora de questão".
O dirigente terminou o mandato em Dezembro de 2006, mas acedeu ao pedido do Conselho Geral para continuar mais seis meses, "ampliado até um ano com o objectivo de concluir o refinanciamento do estádio (realizado no primeiro semestre) e o aumento de capital da SAD, projecto dificultado pela instabilidade actual, mas que ainda não está colocado de parte definitivamente".
Além da crise desportiva, o Boavista tem um passivo a rondar os 35 milhões de euros, segundo João Loureiro "fruto de uma gravíssima discriminação no Euro2004".
"O Relatório do Tribunal de Contas fala de apoios de diversas entidades na ordem de muitas dezenas de milhar de euros aos outros clubes (FC Porto, Benfica e Sporting), algo que o Boavista não teve. Por isso foi necessário reconverter acção do Boavista ao longo dos últimos anos. Mas que fique claro que o Boavista é clube perfeitamente gerível", concluiu.
João Loureira deixa presidência do Boavista
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