“Estive sempre envolvida na comunidade”

Data:

Ana de Moura Pereira é natural da freguesia de Viade de Baixo, concelho de Montalegre, distrito de Vila Real. A partir dos 17 anos, a vida que tinha, no interior transmontano de Portugal, deu uma reviravolta. Emigrou para o Brasil e nove anos depois voltou a partir, para a Austrália e já com a sua família. Naquele «país-continente», onde ainda vive, criou os filhos, trabalhou activamente em instituições da comunidade, com destaque no ensino da língua portuguesa, e acabou por ser eleita para o Conselho das Comunidades Portuguesas. “Manter a minha língua e a minha cultura, foi sempre a minha prioridade”, confessou ao Emigrante/Mundo Português.

Tinha 17 anos quando emigrou com os pais e os irmãos para o Brasil, onde viveu nove anos e onde casou, com Joaquim Gonçalves Pereira, seu companheiro de vida.
Em 1967 emigrou novamente, desta vez para a Austrália, ao encontro do marido que tinha ido para aquele país com um contrato de trabalho. Consigo levou Alda Maria, a primeira filha do casal, então com três anos de idade.
Não sabia falar inglês nem tinha a mais pequena ideia de como seria o distante país para onde estava destinada a ir, mas enfrentou essa nova etapa na sua vida com a disposição de quem parte em busca de uma vida melhor, para si e para a família. Na Austrália, trabalhou sempre na indústria do vestuário, e reformou-se em 1995.
Em Melbourne nasceram os outros filhos de Ana e Joaquim Pereira: Robert (em 1969) e Elizabeth (1971) e ali o casal viu nascer também os dez netos. Sublinha que, assim como o marido, deu sempre muito valor e importância à educação e orgulha-se dos cursos universitários concluídos pelos filhos. Alda formou-se em Ciências Matemáticas, Robert concluiu o curso de Economia e Elizabeth é formada em Gestão. “Têm todos as sua carreira consolidada, a sua família, a sua casa própria”, diz Ana de Moura Pereira com mal disfarçado orgulho.

Na comunidade

A integração na sociedade australiana não foi feita à custa do afastamento da sus própria cultura e da sua língua. Pelo contrário. Desde logo, Ana de Moura Pereira ligou-se a associações, grupos folclóricos e escolhas de português, sempre com o objectivo de valorizar e fortalecer os laços que unem os emigrantes portugueses à sua Pátria. “Estive sempre envolvida na comunidade. A minha prioridade, desde que saí de Portugal, foi sempre manter a minha língua e a minha cultura”, afirmou ao Emigrante/Mundo Português.
De 1980 a 1985 foi a coordenadora da primeira escola de português em Melbourne – a Escola Portuguesa de Melbourne, hoje Centro Português de Cultura – que conta actualmente com três professores e 55 alunos e é uma das três escolas de língua portuguesa existentes na região onde reside.
Em 1984 resolveu actuar perto dos jovens luso-descendentes e fundou o primeiro grupo folclórico português no estado de Victória. Ao longo de dez anos de voluntariado, foi coordenadora, presidente e tesoureira do Grupo Folclórico e Cultural «Sol de Portugal», que é hoje uma organização comunitária com sede própria. Entre 1996 e 1997, Ana de Moura Pereira foi também presidente de um clube de futebol, cujos membros são, maioritariamente, de origem portuguesa.
Os serviços prestados no sentido de dar visibilidade e promover a comunidade portuguesa do estado de Victória valeram, em 2002, o reconhecimento das autoridades australianas e a atribuição do prémio «Prestação de Serviços Meritórios».
Em Abril de 2002, acompanhou seis alunos do Centro Português de Cultura, num programa de férias em Portugal, para que travassem conhecimento com as suas origens, com realidade portuguesa e com a sua História.
Em Março de 2003, Ana de Moura Pereira foi eleita conselheira para o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), pela Ásia e Oceania, um cargo que ocupa até hoje. “O Conselho é um elo de ligação entre Portugal e as comunidades”, afirma, acrescentando que não é o “pequeno” orçamento de cerca de 475 euros que é anualmente destinado à secção da Ásia e Oceânia, que a impede de fazer o trabalho de conselheira do CCP. “Já paguei passagens do meu próprio bolso”, revela.
Entre os projectos que iniciou como conselheira das comunidades, destaca a organização da Comissão de Língua Portuguesa, que reúne as comunidades portuguesa, brasileira e timorense, e actua, entre outras vertentes, no apoio ao diálogo entre os governos português e australiano. Deu ainda início à Associação de Empresários de Melbourne.
Sobre a integração da comunidade na sociedade australiana, afirma que é feita naturalmente, até porque, destaca, “os portugueses são vistos como pessoas dinâmicas, trabalhadoras e que não arranjam problemas”.
Três décadas vividas na Austrália não comprometeram a sua ligação à terra natal, nem a fizeram afastar-se das suas raízes transmontanas. Ana de Moura Pereira diz que Montalegre “será sempre” a sua “terra”, um lugar “onde conseguiria voltar a viver” e para o qual regressa, mesmo que seja temporariamente, quase todos os anos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Share post:

Popular

Nóticias Relacionads
RELACIONADAS

Compal lança nova gama Vital Bom Dia!

Disponível em três sabores: Frutos Vermelhos Aveia e Canela, Frutos Tropicais Chia e Alfarroba e Frutos Amarelos Chia e Curcuma estão disponíveis nos formatos Tetra Pak 1L, Tetra Pak 0,33L e ainda no formato garrafa de vidro 0,20L.

Super Bock lança edição limitada que celebra as relações de amizade mais autênticas

São dez rótulos numa edição limitada da Super Bock no âmbito da campanha “Para amigos amigos, uma cerveja cerveja”

Exportações de vinhos para Angola crescem 20% desde o início do ano

As exportações de vinho para Angola cresceram 20% entre janeiro e abril deste ano, revelou o presidente da ViniPortugal, mostrando-se otimista quanto à recuperação neste mercado, face à melhoria da economia.

Área de arroz recua 5% e produção de batata, cereais, cereja e pêssego cai 10% a 15%

A área de arroz deverá diminuir 5% este ano face ao anterior, enquanto a área de batata e a produtividade dos cereais de outono-inverno, da cereja e do pêssego deverão recuar 10% a 15%, informou o INE.