Desde há cinco anos que quem viaja frequentemente entre Lisboa e o Algarve tem a vida facilitada. Com a inauguração do último troço da auto-estrada do Sul (A2), entre Almodôvar e a Via Longitudinal do Algarve (mais conhecida por Via do Infante), em Julho de 2002, a distância entre as duas regiões encurtou. O tempo passou depressa e já nem nos lembramos de quando saíamos de Lisboa, direitos a Alcácer, Grândola que ficou imortalizada na canção do poeta Zeca Afonso e ansiávamos para parar em Canal Caveira, uma terra junto à EN Nacional 259 – IC1 , assim como a meio caminho e em que os restaurantes eram uns a seguir aos outros e ainda são. Com bons parques de estacionamento, mesmo ao lado da estação ferroviária, hoje fechada e onde passam os velozes Intercidades e alfas rumo ao Algarve; Canal Caveira vivia dos passantes e dos almoços e jantares que servia.
Hoje acabaram-se as filas intermináveis no IC 1 – principalmente no mês de Agosto, para grande gáudio dos milhares de veraneantes que rumam todos os anos às praias do Sul – e as voltas pela serra do Caldeirão. As viaturas de matrícula estrangeira pela auto-estrada são mais que muitas; já que hoje o emigrante em férias não dispensa uma ida ao Algarve, onde tem a sua casa de férias, ou aluga moradias para a família, ou pernoita em bons hotéis ou aldeamentos turísticos. Longe vai o tempo em que não saía da sua amada terrinha. Os tempos são outros e o Algarve merece sempre uma visita. Hoje a viagem tornou-se mais rápida porque a velocidade de circulação aumentou, mas também mais cara. E e o preço cobrado pelas portagens é uma das razões que levam vários automobilistas a continuar a fazer apenas metade do percurso entre Lisboa e o Algarve pela A2. Isso e o hábito enraizado ao longo de muitos anos. As boas condições do piso do IC 1, o preço das portagens e o custo das refeições nas áreas de serviço da auto-estrada são factores que levam alguns condutores a só circularem na A2 entre Lisboa e Alcácer do Sal ou Grândola. O Canal Caveira e a Mimosa (concelho de Aljustrel) eram dois dos locais mais procurados para tomar as refeições por quem viajava entre Lisboa e o Algarve, antes da auto-estrada ficar completa. A restauração era o suporte da economia local. Com a abertura do último troço da A2, o negócio sofreu uma quebra acentuada, nos primeiros tempos, pois todos queriam viajar pela auto-estrada.
Muitos temiam que encerrassem, mas não. A nossa reportagem acompanhou nas áreas de serviço de Grândola os emigrantes que se dirigiam para o Algarve e no regresso, como não podia deixar de ser,viemos pelo Canal Caveira, rumo a Grândola, para ver como estava a Meca da boa gastronomia portuguesa.
O restaurante Canal Caveira, o maior e mais antigo da localidade, com 26 empregados (foi inaugurado na década de 60) já conheceu melhores dias, mas não só por culpa da A2.
Alda Augusto Martins Mestre, natural de Santiago do Cacém é proprietária do estabelecimento há cerca de dois anos e meio, sublinhou, recebeu-nos que “o poder de compra dos clientes tem vindo a diminuir de ano para ano”.
“No início, as mesas estavam cheias de comida. Agora, se o cliente come a entrada, já não pede sobremesa e uma dose é o suficiente para duas pessoas”, exemplifica a empresária. E diz-nos ” felizmente que os automobilistas continuam a parar, já que a qualidade da comida justifica, eu sou suspeita para dizer isso, nós tentamos o melhor possível e ainda vale a pena sair da auto-estrada e passar por aqui” referindo-se ao aumento do número de pessoas, neste início do mês de Agosto, refere que nota muito a falta de poder de compra dos passantes. Os emigrantes continuam a passar e a não esquecer o mítico Canal Caveira a terra que ganhou fama dada a sua gastronomia, que é excelente. Falando em autoestrada a os para Grândola, se os transeuntes no trajecto Algarve/Lisboa existisse uma placa com indicação de saída para Grândola/Sul e Canal Caveira. Certamente, que uma das fontes de receita que é a gastronomia, maior número de postos de trabalho poderia criar.
