Adolfo de Carvalho tem 54 anos e vive desde há sete da recolha de garrafas nas ruas de Copenhaga. Não quer regressar a Portugal por um emprego de “500 euros por mês” e garante que vai “morrer nesta cidade”.
Natural de Amarante, Adolfo é conhecido nas ruas da capital dinamarquesa por “Porto”. Explica que trabalha de noite “porque é quando há mais trabalho” e assume-se como um sem-abrigo com um “ordenado” invejável para Portugal.
“Porto” é um funcionário público português, com uma licença sem vencimento por 10 anos. Antes de chegar às ruas de Copenhaga passou por França, Holanda, Suécia “e outros países”, mas em “nenhum deles” se sentiu tão bem como na Dinamarca.
A viver nas ruas, vai recolhendo garrafas, que depois vende por entre uma e três coroas dinamarquesas cada (entre 15 e 40 cêntimos de euro). Todos os dias consegue guardar “no mínimo” 50 euros e “comer e beber bem”, apesar de dormir na rua, “onde calha”.
Tem um “banco”, um cacifo alugado numa casa de banho pública, onde guarda as poupanças diárias, e um carrinho de mão para as garrafas e os restantes haveres. É um “príncipe” português que admite “reinar” nas ruas da capital dinarquesa. Adolfo prefere ser sem-abrigo na Dinamarca a regressar à sua antiga vida em Portugal: “não me estou a ver regressar a Portugal por causa dos 500 euros que os meus colegas ganham. Estou bem aqui e é aqui que vou morrer. Só espero que seja daqui a muitos anos.”
É conhecido na cidade, onde garante que é respeitado “porque se dá ao respeito” e “até a polícia já me conhece e cumprimenta” por saber que não é “pessoa para arranjar problemas”. E afirma ter “muitos amigos” que lhe dão dinheiro, mas “nunca de mão estendida” porque “mendigar, nunca!”.
O português não se queixa de nada: todos os anos faz “duas ou três semanas” de férias em Portugal e “só” viaja de avião. Já não tem família no país, mas todos os anos visita um “bom amigo” que tem em Matosinhos.
Para o futuro tem a esperança de ser vendedor do “Hus Forbi”, o jornal de rua dinamarquês, e de ser integrado no sistema de segurança social daquele país para poder ter um quarto que substitua as ruas. Isto porque “aqui dão aos sem-abrigo um mínimo de 7 mil coroas dinamarquesas”. “Uma fortuna”, diz Adolfo.
Aquele que é o único português a viver nas ruas de Copenaga garante ter o estatuto de ser “o que aqui anda há mais tempo”, sendo por isso, sublinha, “um bom representante de Portugal” por estas paragens.