A terra natal é ainda local obrigatório de férias, mas já deixou de ser o único destino. Os portugueses que residem no estrangeiro continuam a privilegiar o seu país quando partem para o período anual de descanso e aproveitam a vinda para conhecer melhor o país que os viu partir. Foi o que revelaram alguns leitores ao «Emigrante/Mundo Português»…
Todos os anos, o percurso repete-se. Em Junho, José Manuel Sacras, 70 anos, e a mulher deixam o Luxemburgo, país onde residem há 38 anos e rumam a Portugal.
Se durante muito tempo as sempre desejadas férias resumiam-se ao mês da praxe, de há uns anos para cá, a reforma permitiu-lhes passar três longos meses em Portugal.
O Emigrante/Mundo português foi contactá-lo em Olhos D´Água, Algarve, onde estava a passear e a aproveitar uns dias de praia. Até porque este português natural de Vale de Remígio, concelho de Mortágua, foge à estatística dos emigrantes portugueses que passam a maior parte do tempo de férias na sua terra natal. “Em 2006 fizemos seis mil quilómetros por Portugal, de Norte a Sul”, revela, dizendo que a sua média anual é percorrer cerca de quatro mil quilómetros pelo país todos os anos, “mais pelo Norte”.
Passeios que nem sempre são programados, como faz questão de frisar. “Às vezes são de rompante, fazemos as malas e vamos por aí. Paramos onde queremos, dormimos em hotéis e seguimos viagem”.
Chegou a 15 de Junho e deverá ficar até meados de Setembro e apesar de serem umas férias longas, o tempo passa depressa para quem descobre sempre o que fazer. “Este ano não temos viajado muito, porque arranjei um passatempo que me ocupa”, explica, revelando de seguida que o tempo é ocupado em algumas modificações que está a fazer em casa. “Fiz uma churrasqueira e embelezei alguns espaços da residência”, diz animado.
Animação não deve faltar na casa de José Manuel Sacras em Vale de Remígio. Com o casal estão a filha, o filho, nora e genro e os dois netos. Quando estes regressarem ao Luxemburgo, o casal ainda vai ter tempo de sobra para fazer o percurso que agendou para este ano. Querem ir até Évora, Covilhã e Santiago de Compostela (Espanha). E talvez, mais alguns outros lugares que não foram planeados…
Por amor à terra
“Se viemos todos os anos é por amos à Pátria e à nossa terra”. Lívia Páscoa Pereira deixa, desde logo, bem claro que esse é o principal motivo do regresso, temporário, do casal a Portugal. Natural da Nazaré, vive nos Estados Unidos e, desde que se recorda, vem com o marido, Lázaro Pereira, a Portugal todos os anos. “Já estamos na reforma e podemos vir mais tempo. Desde há quatro anos para cá, viemos duas vezes por ano”, explica.
Lívia Páscoa Pereira foi para os Estados Unidos com as duas filhas em Julho de 1974, para reunir-se ao marido. Chegou a Nova Iorque não demorou muito tempo a obter trabalho. Aqui trabalhava como costureira num atelier e o facto de ser sindicalizada, ajudou-a a conseguir emprego naquele país, numa fábrica de roupa parisiense. Ali trabalhou durante cerca de 30 anos, até se reformar. As filhas, portuguesas, cresceram nos estados Unidos sem perderem o vínculo a Portugal, uma ligação que passaram aos filhos, para orgulho de Lívia e Lázaro. Prova disso, diz, foi a forma como as três netas e o neto acompanharam a participação de Portugal no Euro 2004 e no Mundial de futebol de 2006. “Apesar de serem fruto de uma mistura portuguesa, italiana e irlandesa, é por Portugal que torcem com toda a força e vestem a camisola da selecção”, diz com orgulho.
As filhas já vieram a Portugal passar férias, mas este ano o casal veio sozinho. Mas isso não significa que não tenham o que fazer. Este ano, não deverão viajar tanto por Portugal como costumam, já que estão a fazer obras em casa, mas sempre arranjam tempo para passear. “Vou todos os dias à praia, volto por volta das 11 horas e depois tenho sempre o que fazer. Gosto muito de estar na minha terra, o sítio onde vivo tem uma vista muito bonita”, afirma, mas acrescenta que não deixa de passear pelas localidades próximas da Nazaré, nomeadamente, Fátima, Caldas da rainha, Óbidos, Alcobaça, Leiria e Batalha. “Nós aproveitamos as férias. Se houver excursões, às vezes vamos. Este ano talvez vá à Madeira e aos Açores”, revela. Até porque, já que as férias prolongam-se este ano até 15 de Setembro, ainda tem mais de um mês por aproveitar.
Para descansar
Ilídio Agostinho, 59 anos, também não perde a oportunidade de vir a Portugal todos os anos, com a mulher. Aliás, sublinha que vem geralmente, três a quatro vezes por ano ao seu país, uma vantagem de estar neste momento na pré-reforma. “Este ano já cá estive em Março, vim na Páscoa, voltei em Junho por dois dias para resolver uns assuntos e regressei agora”, revela.
Natural de Boiças, concelho de Rio Maior, reside em Beauvais, França, há 37 anos, 32 dos quais, vividos a percorrer a Europa. “Era condutor de autocarros de turismo e andei por muitos países. Fiz oito voltas à Europa, e ficava em média de três semanas a um mês em viagem”, recorda ao Emigrante/Mundo Português. Em vez de o deixar «farto» das viagens, a profissão aguçou-lhe a curiosidade em conhecer locais diferentes. Chegou a Portugal no dia 25 de Julho – “vim nas calmas, por aí abaixo” – e aqui vai ficar até meados de Setembro, mas sempre a «saltitar» de um lado para o outro. Boiças acaba por ser o ponto de partida para Faro, onde vive um filho que veio para Portugal estudar e por cá ficou. Mas quando deixa Beauvais a caminho de Rio Maior, o casal passa sempre por Baiona, França, perto da fronteira com Espanha: ali reside o outro filho.
Por cá, o tempo acaba por ser pouco e as actividades muitas. A semelhança dos outros leitores, também aproveitou para fazer umas obras em casa e cuidar da estufa de flores que tem nos terrenos à volta da residência. Apesar de gostar de viajar, é na casa em Boiças que o casal aproveita os momentos de tranquilidade. “Está um tempo muito bom, tenho umas árvores que fazem sombra e gosto de ficar em baixo de uma palmeira, a descansar”, explica com boa disposição.
Em Setembro, o casal regressa a França, mas a próxima viagem já está marcada: em Outubro, vão a Veneza, Itália.
