EUA: Portuguesa à beira de ser expulsa escreve a Bush

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Uma jovem portuguesa, que vivia ilegalmente nos Estados Unidos da América há cerca de três anos, recebeu ordem de expulsão depois duma rusga dos serviços de imigração à fábrica onde trabalhava. A jovem, de nome Sónia Alves Soares, emigrou de Alijó, em Trás-os-Montes, para os EUA aos 15 anos, estando na altura grávida de sete meses. A intenção era ir ter com o namorado, que tinha seguido viagem três meses antes, e a família deste. Sem estar informada, deixou passar os noventa dias permitidos por lei para a permanência no país. Entretanto nasceu a sua filha, Tatiana, ficando esta com nacionalidade norte-americana. Quando Sónia foi informada de que se regressasse a Portugal não poderia voltar a reentrar nos EUA, decidiu ficar com a filha e o marido no país. E, ao fim de algum tempo, arranjou emprego numa fábrica nos arredores de New Bedford, Massachusetts, juntamente com outras dezenas de emigrantes. Até que, em Março último, os serviços de imigração descobriram que mais de metade dos funcionários da fábrica estavam ilegais. Dos cerca de quinhentos trabalhadores, quatro eram portugueses. Três deles foram já deportados. Sónia está obrigada a regressar a Portugal até ao dia 31 de Agosto.

A questão da imigração está na ordem do dia nos EUA. Há várias propostas para se mudar a lei, mas até agora nada se alterou.

Entrevista de Sónia Soares a “O Emigrante/Mundo Português”

“Ainda não perdi a esperança”…

P. Acaba de vir do advogado… o que é que ele lhe disse?

R. Disseram-me que não, que não tem jeito. Tenho que sair no dia que a imigração me disse.
P. A 31 de Agosto, certo?

R. Sim, a 31 de Agosto.

P. Como é que se sente em relação a isso?

R. Ainda não perdi a esperança. Continuo à espera que o presidente Bush dê uma resposta. A única hipótese que tenho de poder ficar neste país depende da resposta do presidente Bush. Se ele disser que eu posso ficar, eu fico. Está tudo nas mãos dele agora.

P. Como é que foi parar aos EUA?

R. Conheci o meu namorado em Portugal. Depois, passado algum tempo, ele veio viver aqui para os EUA. Eu já estava grávida. Ele veio e passados 3 meses eu vim também. Mas sem imaginar a situação em que ia ficar aqui; nunca imaginei que não ia poder ter papéis, não sabia nada, ninguém me falou nada. Eu vim e depois, passados os 90 dias, fiquei indocumentada. E depois já não saí do país porque me disseram que, se eu saísse, já não podia entrar mais. E, como já tinha tido a menina aqui, eu não quis ir embora e ela nunca mais poder voltar ao país dela. Acabei por ficar. Consegui um trabalho numa fábrica, apareceu a “imigração” e foi então que tudo foi abaixo.

P. Já tinham família nos EUA?

R. O meu marido já tinha familiares cá.

P. Arranjou logo o emprego?

R. Não. Eu vim e fiquei um ano e tal em casa. Só depois é que fui trabalhar para a fábrica. E naquele dia apareceu lá a “imigração” e fomos todos presos.

P. Qual é a situação do seu marido e da família? Estão legais?

R. O meu marido também não tem papéis, mas a família dele tem.

P. Casou nos EUA?

R. Sim, casei aqui nos EUA, no ano passado.

P. Então e quando casou não lhe pediram papéis?

R. Não. Para casarmos aqui não precisamos de documentos. É só dar os nossos nomes, o passaporte e podemos casar.

P. Se tiver mesmo que regressar, como é que está a pensar fazer? A sua filha volta consigo?

R. Sim, ela vai ter que voltar comigo. Mas agora tenho um problema porque, se ela for, ela vai ficar indocumentada em Portugal. Então estamos a tentar ganhar tempo com a “imigração”, pelo menos para me darem tempo para ela ter os papéis portugueses, porque se ela for vai ficar indocumentada e os papéis, normalmente, levam de 6 a 8 meses. Eu não queria que ela ficasse ilegal.

P. E o seu marido?

R. O meu marido ainda vai ficar aqui nos EUA. E, passado algum tempo, volta para Portugal.

P. Enviaram cartas a outras pessoas, a senadores, correcto?

R. Sim, enviámos cartas aos senadores John Kerry, ao (Edward) Kennedy, ao Barney Frank (congressista).

P. E que respostas tiveram, se é que tiveram alguma?

R. Só tivemos resposta do Barney Frank. Ele disse que disse que não, que não pode fazer nada. A única pessoa que tem poder para fazer alguma coisa é o Bush.

P. Considera a lei justa? Pensa que os casos deviam ser tratados individualmente?

R. Não aceito esta situação. Não estávamos a fazer mal nenhum. Não entendo.

P. Tem recebido algum apoio da comunidade portuguesa aí nos EUA?

R. Muita gente me está criticando porque vieram, esperaram o tempo que era necessário para vir com papéis, muita gente me está a criticar por causa disso. Mas eu não sabia de nada. Eu vim com 15 anos para este país. Não imaginava a situação que ia passar aqui. É difícil.

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