Um grupo de investigadores do Laboratório de Energética e Detónica (LEDAP), da Universidade de Coimbra, está a colaborar com várias instituições internacionais da área dos explosivos, para desenvolvimento de medidas antiterroristas. “Podem fazer-se actos terroristas de muitas e variadas maneiras. Quando acontecem é preciso perceber e investigar como foram feitos para desenvolver medidas antiterroristas”, explicou à agência Lusa José Campos, investigador do LEDAP.
Este é o único laboratório em Portugal que se dedica à investigação e desenvolvimento na área dos explosivos. “Há outros, como o laboratório de explosivos da Marinha, mas não faz investigação. Trata da qualificação de explosivos para munições”, afirmou José Campos. Criado pela Universidade de Coimbra e pela Sociedade Portuguesa de Explosivos, o LEDAP conta actualmente com a colaboração da Associação para o Desenvolvimento Aerodinâmica Industrial (ADAI). Desde a junção de adubo a gasóleo, passando pela utilização de cristais de explosivos militares, até ao fabrico de explosivos a partir de munições pesadas, como no Iraque ou Afeganistão, há uma enorme variedade de opções para provocar explosões, afirmou o especialista. “Chegamos à conclusão que o mundo está a passar de massa e energia para uma situação de energia e conhecimento”, disse José Campos. O especialista explicou que na II Guerra Mundial “quando se precisava de atingir um alvo, bombardeava-se toda uma área”. “Era tudo massa bruta. Hoje é cirúrgico, energia específica e conhecimento acrescido”, afirmou.
O conhecimento e investigação na área dos explosivos não está só do lado de quem o combate, mas também do lado dos próprios terroristas. “Em ciência, no sentido de saber fazer, temos de reconhecer que há grupos de terroristas que sabem fazer, tiveram de aprender. Não é ao longo de uma vida que se adquire esse conhecimento, tem de se usar as vidas de outros”, afirmou José Campos. Os próprios grupos terroristas possuem diversos níveis de conhecimento e uma tradição de ensino específica, o que resulta em diferentes modos de actuação. A investigação debruça-se sobre o «modus operandi» dos terroristas, especificamente, no caso português, sobre os explosivos utilizados, tendo já resultado em trabalhos publicados pela NATO.
A equipa de seis investigadores, coordenada por José Campos e integrada no departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DEM/FCTUC), foi recentemente distinguida com o primeiro prémio da Conferência Europeia de Explosivos (ICT), realizada na Alemanha, com um estudo destinado a avaliar o comportamento dos explosivos. A investigação tem vindo a ser desenvolvida nos últimos cinco anos e consta de uma nova técnica que passa pela introdução de fibras ópticas na estrutura do explosivo, permitindo ver as reacções no seu interior e assim avaliar o seu comportamento. “Só trabalhamos em detonação e deflagração de materiais energéticos. O nosso trabalho termina sempre no protótipo, não fazemos nada disto industrial”, frisou o investigador.
O projecto da equipa de investigadores nacionais foi premiado entre centenas de trabalhos, apresentados por cientistas de todo o Mundo (Estados Unidos, Japão, Canadá, isareal, Suécia, Coreia, entre outros) e obteve a unanimidade do júri. O trabalho agora premiado foi desenvolvido por um investigador russo, Igor Plaksin, que está em Portugal há 11 anos, tendo chegado ao país no âmbito de um programa de “recolocação” de cientistas oriundos da Rússia promovido pela NATO.