Um projecto inovador de cartografia e análise do fundo do mar está a decorrer ao largo da Nazaré para conhecer o maior «canhão» submarino da Europa e um dos maiores do mundo. O canhão da Nazaré é uma espécie de vale submarino que atinge os cinco mil metros de profundidade e os 150 junto à costa. Esta imensa fenda é uma área geológica única com ecossistemas próprios ainda por estudar pela ciência.
Investigadores de vários países europeus marcaram encontro este Verão, entre Junho e Julho, ao largo da Nazaré, para participarem no projecto «Hermes». Dois navios de investigação, o D. Carlos I, da Marinha Portuguesa e o inglês James Cook, estão a realizar observações detalhadas do Canhão Submarino da Nazaré, com o objectivo de identificar as espécies marinhas profundas que ali se encontram e de caracterizar o ambiente extremo em que habitam.Uma das etapas do projecto foi a utilização de um sofisticado robô, instalado no navio James Cook, que durante uma semana, no final deste mês, analisou o local, permitindo fotografar, filmar e recolher amostras da vida marinha no fundo do mar da Nazaré, até profundidades superiores a cinco mil metros.
O robô, controlado por fibra óptica, possui várias câmaras e garras controladas em tempo real por operadores no navio inglês, permitindo ainda realizar pequenas experiências no fundo do mar, com um nível de precisão superior a dez centímetros. O James Cook reúne uma equipa de investigadores liderada pelo National Oceanographic Centre de Southampton, entidade coordenadora do projecto «Hermes». A missão do navio inglês iniciou-se no Golfo de Cádiz no início de Junho e passou recentemente pelos canhões submarinos de Setúbal e Lisboa.
Já as observações realizadas pelo D.Carlos I irão permitir compreender os aspectos que condicionam o estabelecimento da vida marinha dentro do canhão submarino. Para compreender as condições que possibilitam a existência dos ecossistemas profundos ao longo da fenda, o D. Carlos I está a realizar um programa de observações que inclui medições das características físicas, químicas e sedimentares da água do mar entre a superfície e o fundo, características que se irão estender a toda a região de influência daquele local.
Zona geológica considerada única, o canhão submarino da Nazaré está a ser estudada pelo projecto «Hermes» desde 2005. As análises já revelaram, por exemplo, que a gigantesca fenda não só afecta significativamente as condições marinhas como também tem grande impacte na erosão costeira da zona. O projecto, que envolve várias instituições europeias, entra as quais o Instituto Hidrográfico da Marinha Portuguesa e a Universidade de Aveiro, só termina daqui há dois anos.
Para Portugal as conclusões são de grande relevância, nomeadamente no que toca ao pretendido alargamento da plataforma continental nacioal para além das 200 milhas náuticas.
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