O Presidente da República, Cavaco Silva, advertiu que “o Estado português não pode alhear-se nem demitir-se” de resolver os problemas dos emigrantes. Numa comunicação dirigida às comunidades, na véspera das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Setúbal, Cavaco Silva afirmou que o Estado tem de “garantir estruturas” de apoio aos emigrantes, numa referência aos consulados portugueses espalhados pelo mundo…
Porque, justificou, “nem sempre é fácil manter os laços” com Portugal e que “o afecto e a saudade podem não ser suficientes para assegurar a preservação de laços sólidos entre os emigrantes e as suas origens”. “Há que garantir estruturas institucionais que permitam aos emigrantes manter e aprofundar os contactos com o seu país de origem”, disse, na declaração que fez no antigo edifício do Banco de Portugal, onde visitou uma exposição sobre a emigração portuguesa. O Chefe do Estado afirmou ser necessário que os emigrantes “conheçam a realidade portuguesa e acompanhem a sua evolução” e que “percebam que o país oferece hoje novas oportunidades para a realização de investimentos produtivos”. Numa “saudação muito calorosa às comunidades espalhadas pelo Mundo”, pelo “exemplo que representam para o país”, o Chefe do Estado lembrou ter ido comemorar o seu primeiro ano de mandato com uma visita ao Luxemburgo, onde vive a uma grande comunidade portuguesa. Cavaco Silva confessa o seu “firme propósito” para que os luso-descendentes “não percam – antes reforcem – os laços que os unem à terra de onde partiram”. No final do mês, Cavaco Silva desloca-se aos Estados Unidos também para “contactar de perto” com as comunidades existentes no país, em Bóston, New Bedford e Newark. “Levo-lhes a mesma exortação que faço agora a todos os emigrantes: não se esqueçam de que existe um país onde tudo começou e que permanece vosso. Esse país é Portugal”, afirmou.
O Presidente da República insistiu no apelo ao inconformismo e prometeu, ele próprio, não se resignar às dificuldades do país e “aos fracos níveis de crescimento económico”, na sessão solene do Dia de Portugal, em Setúbal. “Não me resigno”, repetiu Cavaco Silva na cerimónia no edifício do Porto de Setúbal, perante uma plateia de centenas de pessoas, e a poucos metros, no palco, do primeiro-ministro, José Sócrates. “Tenho repetido várias vezes que não me resigno à passividade perante os indicadores persistentes do nosso atraso em relação aos parceiros europeus”, afirmou. De seguida, deu os exemplos das áreas em que não se resigna. “Não me resigno aos fracos níveis de crescimento económico, ao abandono escolar preocupante, à pobreza e exclusão social de tantas famílias, à escassa dimensão das componentes científica e tecnológica do aparelho produtivo”, exemplificou.
Preocupado, e com a promessa de não se resignar, está igualmente Cavaco Silva com os “sinais de degradação do ambiente, património cultural”.
O Presidente justificou a sua referência aos problemas do país com o facto de a data não poder reduzir-se a um “mero ritual”, alheio às dificuldades que “atingem de um modo mais ou menos intenso muitos” portugueses. Há um ano, nas comemorações de 2006, no Porto, Cavaco Silva pediu aos portugueses para não se resignarem às dificuldades porque “seria indigno” do passado de Portugal, “um desperdício” do presente e “o adiar” do futuro.
Na cerimónia está presente grande parte do Governo, incluindo o titular das Obras Públicas, Mário Lino, autor, há duas semanas, das polémicas declarações em que comparou a margem sul do Tejo a um deserto, recusando a hipótese de construir o novo aeroporto, previsto para a Ota. Nas comemorações de 2007 do Dia de Portugal, Cavaco defendeu que data não se deve assinalar “de um modo passadista”, afirmando que a História “pode e deve ser uma fonte de inspiração e de confiança”, dado que os portugueses conseguiram sempre ultrapassar dificuldades e “crises”. “Não podemos é entregar-nos ao sentimento derrotista que desde há mais de um século vem sendo tão frequente entre nós. A desistência nunca foi solução. Nem a nível individual nem a nível colectivo”, argumentou.
Cavaco Silva lembrou o legado dos portugueses ao longo da sua história, afirmando que vai inaugurar, no dia 20, uma exposição alusiva ao tema em Washington, com o título “Abraçando o Mundo”. A poucas semanas de Portugal assumir a presidência portuguesa da União Europeia (UE), a 01 de Julho, o Presidente da República afirmou que a responsabilidade é “pesada e exigente” e que se exige “dignidade, rigor e competência”. Portugal, afirmou, “será desafiado a promover a convergência dos 27 Estados-membros sobre muitas questões complexas, como seja a reforma institucional”. “Sei bem que os resultados nunca dependem só da presidência. Dependem essencialmente da vontade dos Estados-membros. O que se exige, contudo, é que a presidência seja exercida com dignidade, rigor e competência. Só assim se reforçará o prestígio do país”, afirmou.
De registar o apupo por alguns populares à chegada do Primeiro Ministro e as declarações do treinador do Chelsea, o setubalense José Mourinho, que aproveitou a ocasião para criticar o ministro das Obras Públicas por se ter referido à margem sul como um deserto durante um debate sobre o novo aeroporto internacional de Lisboa promovido pela ordem dos engenheiros. “Acho que muitas das vezes o silêncio é de ouro e as palavras de prata, mas aquelas palavras do senhor ministro nem de bronze foram”.
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