Quando emigram, os portugueses levam na bagagem toda uma riqueza cultural e histórica que rapidamente se manifesta junto da comunidade de acolhimento. Somos pioneiros em realizar, onde quer que nos encontremos, as mais diversas actividades ligadas à história, à cultura, aos usos e costumes, às Tradições. Prova disso são os Ranchos folclóricos e os grupos de música popular e tradicional portuguesa. Em Bruxelas, capital da Europa, onde a diversidade cultural atinge níveis de elevada qualidade, existe, desde há um ano, a possibilidade de se aprender a tocar a concertina. Uma novidade que honra as nossas tradições populares, merecendo ser realçada por esta ocasião especial, em que festejamos o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a festa magna da diáspora!
A nossa música tradicional popular está na moda e ainda bem! Muito tempo afastada e quase extinguida, a concertina ou acordeão diatónico está de volta, dentro e fora do país. Instrumento típico e apreciado no Minho, ganha agora outras paragens, conquistando novas gerações. Exemplo dessa vontade e da paixão pelo típico instrumento, é a criação de um espaço de aprendizagem, a escola de concertina «Tocatas do Minho», de Aurélio Barroso, no coração da Europa cultural e politica. Natural de Faria, Barcelos e a viver em Bruxelas há sete anos, o grande tocador, traz consigo histórias de encantar e uma experiência, que deseja por ao serviço dos compatriotas, numa partilha de valores e saberes que caracterizam a sua personalidade. Mesmo sem contributos nem apoios o homem da concertina, como é conhecido, compromete-se a realizar um trabalho de qualidade e de responsabilidade junto da comunidade portuguesa na Bélgica. Mais do que um sonho a escola de concertina é uma realidade ao serviço da cultura popular portuguesa, produzindo resultados que surpreendem.
A sua dedicação é sem limites, que o digam os seus alunos, em número cada vez mais significativo. Um dos objectivos subjacentes é também preparar tocadores de concertina para tocar depois nos ranchos folclóricos, sempre com falta de tocadores. Sem esses executantes, sem haver música, não se podem exibir as típicas danças do Minho e outras. E já estão integrados em ranchos folclóricos alguns dos aprendizes do Mestre Barroso. Isso lhe dá imenso gosto, saber que por sua iniciativa, pelo seu persistente trabalho, pela sua dedicação se vai formando gente de todas as idades, para corresponder às solicitações feitas pelos grupos de folclore e outros divertimentos musicais, ligados à nossa popularidade.
A concertina, é um instrumento de difícil execução devido à sua característica – acordeão diatónico – ou seja, ao abrir o fole produz um som e ao fechar produz outro som diferente no mesmo botão. Em Portugal, há vários métodos de ensino da concertina, que terá chegado ao nosso meio nos finais do século XIX, sendo também designado por harmónico ou harmónica. No Minho, terra do mais expressivo folclore, as concertinas saem com frequência à rua; andam nas feiras e nas romarias, nas festas e nos arraiais. Ninguém fica indiferente a esse toque convidativo a um pé de dança, numa cana verde, numa chula, ou num vira bem picado…
Extrovertidos e alegres, são também os cantares ao desafio, as desgarradas minhotas, temáticas ou soltas, amorosas ou satíricas. Para os acompanhar lá está a concertina, rainha das festas do Alto Minho. Porque assim é desde há longos anos e porque sentimos o dever de ajudar na preservação destes valores, de tão importantes actividades, estamos aqui para felicitar o amigo Aurélio Barroso, dando-lhe o abraço da estima e da admiração. «Tocatas do Minho», de Bruxelas, anima festas populares, com entusiasmo, alegria e muita emoção. Ninguém fica indiferente à beleza de tão expressivos sons, que recordam as melodias da nossa infância, na nossa terra, do nosso país.
António Fernandes – Correspondente
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