Maria João Matos, 22 anos, no desemprego apesar do curso de Enfermagem arduamente obtido, decidiu, tal como muitos outros jovens licenciados portugueses, aprender espanhol, “à espreita” de uma oportunidade de trabalho no país vizinho. “Decidi tirar o curso de conversação, porque sinto que, na minha profissão, é o que me fará mais falta se conseguir arranjar um emprego em Espanha”, disse, à agência Lusa, aquela jovem de Viana do Castelo. Entretanto, e enquanto aprende o idioma de Cervantes, Maria João já está inscrita no Centro de Emprego de Espanha e garante que não hesitará “nem um segundo” caso do outro lado da fronteira, nomeadamente da Galiza, lhe chegue uma proposta de trabalho. “Em Espanha, além de haver mais emprego, os salários, normalmente, também são melhores”, afirma.
Desde finais de 2006 que a delegação de Viana do Castelo do Instituto Português da Juventude (IPJ) tem vindo a promover cursos de espanhol, por onde já passaram cerca de 120 formandos, na sua esmagadora maioria jovens licenciados. “Uns vêm porque querem continuar a vida académica em Espanha, outros porque formaram-se em Portugal e não conseguiram emprego, pretendendo ir trabalhar para o país vizinho”, disse Fernando Cabodeira, delegado regional do IPJ. Por isso, o organismo decidiu “facilitar a vida” aos jovens, proporcionando-lhes cursos de espanhol através de uma candidatura ao programa comunitário “Mobilitas”, no âmbito do Interreg, sendo as aulas ministradas por professores do Centro de Estudos de Espanhol.
Licenciada há cinco anos em Português/Francês, Carina Cardia, 30 anos, deu aulas até Novembro de 2006, altura em que, por falta de colocação, teve que mudar de vida, estando agora a trabalhar numa agência imobiliária. Aproveitando o facto dos cursos de espanhol do IPJ serem também em horário pós-laboral, Carina não deixou fugir a oportunidade de “aprender mais uma língua”, não só porque “são cada vez mais as empresas espanholas que se fixam pelo Alto Minho”, mas também porque não enjeita, de todo, a possibilidade de ir trabalhar para Espanha. “Já tive uma proposta para trabalhar em Barcelona, como Relações Públicas, e volta e meia surge mais um ou outro convite. Como Espanha está muito melhor do que cá, a nível de emprego, temos que estar preparados. E saber falar a língua pode ser meio caminho andado”, referiu.
António Magalhães está a frequentar o 4º e último ano de Design de Comunicação, no Porto, mas também aposta forte na aprendizagem do espanhol, no IPJ de Viana do Castelo, porque sabe que “as coisas em Portugal não estão fáceis” e tem o exemplo de alguns colegas que apostaram em Espanha “e estão a safar-se muito bem”. “Agora, até está um bocadinho na moda ir para Barcelona ou para Madrid, onde os salários são incomparavelmente melhores, e, por isso, essa é uma hipótese que eu não descarto, de todo”, garante.
Segunda maior comunidade
Números agora avançados pelo Ministério do Trabalho e dos Assuntos Sociais espanhol dão conta de que, em Abril passado, estavam registados na Segurança Social daquele país 75.307 mil portugueses. A comunidade lusa é, assim, a segunda maior da União Europeia a residir e a trabalhar na Espanha, depois da romena (186.812 cidadãos). Em termos mundiais, a comunidade portuguesa é a quinta maior força de trabalho estrangeira em Espanha, depois das comunidades marroquina (276.444), equatoriana (268.700), romena (186.812) e colombiana (143.520). Os portugueses emigrados em Espanha laboram, na sua maioria, nos sectores da construção civil, na agricultura, nas florestas e na hotelaria, estando dispersos, sobretudo, pelas regiões de Madrid (12.340), Galiza (11.503), Castela e Leão e Andaluzia.
Na Galiza, os portugueses estão localizados essencialmente em Ourense (4.211), Pontevedra (3.709) e na Corunha (2.291). No entanto, os sindicatos da Galiza consideram que estes números ficam muito aquém da realidade, garantindo que, diariamente, são 22 mil os trabalhadores do Norte do Portugal que cruzam a fronteira para trabalhar naquela região autónoma espanhola, sobretudo na construção civil. Segundo os sindicatos, o que acontece é que mais de 17 mil desses portugueses se encontram alegadamente em situação ilegal.
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