De acordo com o que escrevi nas anteriores “NOTAS DE VIAGEM”, Lima continuará a ser o tema do artigo de hoje.
Gostaria de começar por sublinhar, que, aquando da fundação da cidade, erigida nas margens do Rio Rimac e banhada pelas águas do Oceano Pacífico, os conquistadores Espanhóis apropriaram-se de terras que estavam ocupadas, e cujas populações viviam sob a égide do Império Inca, tendo expulsado os seus habitantes, numa prática, que, aliás, foi muito habitual na colonização Espanhola da América do Sul.
Tal como referido no artigo da passada semana, é a excelente conjugação entre passado e presente que torna verdadeiramente interessante Lima, sendo que o seu centro histórico é de uma beleza única e deveras invulgar.
Iniciando este passeio pelo citado centro histórico, declarado Património Cultural da Humanidade, em 1988, pela UNESCO, de acordo com o afirmado no artigo anterior, foi, com certeza, o facto de a cidade ter sido a capital do Vice-Reino do Peru, que acabou por provocar a elegância e a riqueza que lhe são conferidas por admiráveis igrejas de estilo barroco e neoclássico, espectaculares palácios e mansões com sacadas estilizadas típicas da notável arquitectura de Lima, belas praças de características nitidamente coloniais.
O coração do centro histórico é a Plaza Mayor ou Plaza de Armas, local sempre muito movimentado, e, talvez, o sítio mais procurado pelos turistas. É um espaço muito amplo, enquadrado por belos edifícios, com significativa área pedonal, dispondo de diversas árvores e muito verde, lindíssimos canteiros de flores e vários bancos de jardim.
Aquando da fundação da cidade pelo conquistador Francisco Pizarro, foi por ele definido, que o seu desenvolvimento urbano seria efectuado tendo como pólo a Plaza de Armas, e, desde logo, alocou lotes de terreno para ali serem edificadas as casas do governador e da autoridade municipal, bem como a catedral, pelo que os edifícios mais importantes ligados aos poderes temporal e espiritual foram construídos na mesma praça.
A Catedral, cujo início de construção remonta à data da fundação da cidade, em 1535, começou por ser um edifício bastante modesto, que veio a ser inaugurado em 1540.
Contudo, com o decorrer dos anos, fruto das intervenções de diversos arquitectos, algumas delas motivadas por terramotos, que, entretanto, foram tendo lugar, a Catedral acabou por se assumir como a mais importante construção religiosa de Lima, com um estilo neoclássico e notáveis exemplos de decoração barroca no seu interior.
O edifício, parecendo uma cópia da Catedral de Sevilha, mas apenas com três naves, possui altares revestidos com folhas de ouro, e um espectacular conjunto de cadeiras do coro em madeira talhada, que é um dos mais famosos da América Latina.
O túmulo de Francisco Pizarro encontra-se também na Catedral.
Trata-se de uma visita imperdível para um turista que demande a capital Peruana.
Ainda na Plaza de Armas, encontra-se o Palácio do Governador ou Presidencial, também conhecido como Casa de Pizarro, dado que foi neste local, onde se encontrava parte do palácio de Taulichusco, o cacique Inca das populações desalojadas pelo conquistador Espanhol para fundar Lima, que este construiu a sua residência e a sede do governo.
Igualmente símbolo do actual poder político Peruano, o edifício alberga preciosas obras de arte, nomeadamente, pinturas e trabalhos em madeira.
Presentemente pode-se visitar o Palácio, mas existem algumas condicionantes a ser observadas, como, por exemplo, a inscrição com 24 horas de antecedência e a proibição de usar calças curtas…
Quando lá estive, com as características habituais dos lugares onde o exercício da “dita democracia”, parece por vezes proporcionar alguns receios ou “indevidas interpretações”, havia muitos militares e polícias nas imediações, designadamente, em arruamentos laterais…
Naturalmente, que também neste caso, desde a sua construção, o edifício passou por várias transformações, embora nas suas linhas principais se tenha mantido a traça original.
Na Plaza de Armas, ao lado da Catedral, também se encontram dois edifícios que merecem uma menção especial, ou seja, a pequena Igreja do Sagrario e o Palácio Arcebispal.
A igreja, construída entre 1663 e 1684, foi objecto de diversas alterações ao longo da sua existência, e o Palácio, que já não é a estrutura original do tempo dos Espanhóis, tendo sido inaugurado nos anos 20, a fim de comemorar o primeiro centenário da independência do Peru, é considerado a mais importante réplica da arquitectura do Vice-Reino, que existe em Lima.
O Palácio Arcebispal, na minha opinião, tem uma fachada extremamente bonita.
O edifício da Câmara, construído entre 1939 e 1944, localiza-se no mesmo sítio, onde anteriormente, no século XVI, se encontrava o poder municipal, e está situado no lado oposto ao da Catedral.
No centro da Plaza de Armas, que dizem estar mais bela do que nunca, após recentes obras de restauro e de beneficiação, está uma lindíssima fonte, inaugurada em 1651, onde se pode admirar uma magnifica escultura em bronze, o Anjo da Fama, empunhando um clarim com a mão esquerda, e, com a direita, uma bandeira com as armas da Coroa e o brasão de Lima.
No canto, entre a Câmara Municipal e o Palácio do Governo, encontra-se uma estátua equestre de Francisco Pizarro, esculpida nos anos trinta.
Procurei fazer uma descrição do que de mais expressivo se pode encontrar na Plaza de Armas.
Trata-se do local mais importante do centro histórico de Lima, que, ao longo dos anos, foi testemunha do que de mais marcante teve lugar na cidade. Foi aqui que em 1541, os apoiantes de Diego de Almagro chegaram, entraram na residência de Pizarro e acabaram com a sua vida. Foi ainda aqui que tiveram lugar as festividades aquando da chegada de novos Vice-Reis, as celebrações relacionadas com a vida política e religiosa do Vice-Reino, bem como os autos de fé da Inquisição, também eventos teatrais e touradas em meados do século XVIII, e, até, a proclamação da independência do Peru, feita pelo General José de San Martin em 28 de Julho de 1821, ou seja, tudo que de mais significativo aconteceu em Lima, teve lugar na Plaza de Armas.
E, mesmo mais recentemente, no fim do século XIX, e depois no século passado, a Plaza de Armas continuou a ser o centro da vida da cidade, quer em termos de cerimónias políticas, quer em termos sociais.
Estou certo que por mais que tenha tentado descrever o que de interessante tem o local, a Plaza de Armas de Lima só vista é possível abarcar completamente as suas riqueza, elegância e magnificência arquitectónica, pelo que admito que o texto possa ter revestido alguma secura, ou até mesmo possuir conteúdo pouco estimulante.
Acresce, que na praça há um constante fervilhar de pessoas, que cria uma atmosfera especial, que realmente só mesmo vivida, se pode tentar imaginar o que teria sido, ou sentir o que ainda é, a Plaza de Armas de Lima!
No próximo artigo concluirei então este passeio por Lima.
Rui Oliveira e Sousa
Maio de 2007