Penso que Lima, entre todas as capitais de Países da América do Sul que foram colónias de Espanha, será, porventura, aquela que tem o centro histórico mais bonito.
E, na minha opinião, a principal diferença reside nos magníficos edifícios que ali foram construídos no período colonial.
Sendo certo que estive em todas as cidades capital das referidas ex-colónias, não posso, contudo, afirmar que já as visitei todas, visto que no caso da Colômbia, apenas permaneci em Bogotá cerca de cinco horas, no aeroporto, enquanto aguardava a ligação aérea que me levaria até Quito, pelo que o que acabei de escrever, não é somente fundamentado pela minha observação directa de cada um destes locais.
Obviamente, que para a beleza, a elegância e a monumentalidade que caracterizam o centro histórico de Lima, contribuiu de um modo determinante o facto desta cidade ter sido, na época colonial, a capital do Vice-Reino do Peru, circunstância esta que fez com que para ali confluíssem muitos dos mais importantes decisores políticos, militares, religiosos e económicos, que então influenciavam e conduziam a presença Espanhola na América do Sul.
Das três vezes que estive na capital Peruana, as minhas estadias foram apenas por alguns dias, todavia, julgo ter visitado e apreendido o que de mais significativo e importante tem a Ciudad de los Reyes, denominação dada a Lima por Francisco Pizarro, o conquistador Espanhol, que a fundou em 18 de Janeiro de 1535.
No entanto, com o tempo, acabou por persistir o nome original do local, que, provavelmente, terá tido origem na palavra da Língua Aymara lima-limaq, o nome de uma flor amarela, ou ainda, talvez, proveniente do nome do seu rio, Rimac, palavra do idioma Quechua.
Lima, sendo uma cidade com um clima que se pode considerar ameno, mais concretamente, quente no Verão e morno no Inverno, possuindo pois, uma amplitude térmica muito pequena, onde a precipitação é quase nula, e, quando chove, por norma, isso poderá ter lugar entre os meses de Abril, Maio e Outubro, Novembro, apresenta-se pois, como um destino que pode ser visitado, sem qualquer tipo de condicionante climatérica, em qualquer altura do ano.
A estas peculiares condições atmosféricas, que são resultado da localização geográfica da capital Peruana, ou seja, a Oeste da Cordilheira dos Andes, não muito distante desta cadeia montanhosa, e próxima da Linha do Equador, acresce ainda uma bruma costeira, que, principalmente, entre os meses de Maio e Outubro, esconde o Sol, parecendo mesmo que um manto cinzento impede que a luminosidade do astro-rei chegue até aos habitantes de Lima.
A garoa, que é como se chama esta névoa, como é fácil imaginar, acaba por conferir uma especial atmosfera física à capital do Peru.
Estamos perante uma urbe muito grande, que é o centro económico e político do País, com uma população de quase 9 milhões de habitantes, o que significa cerca de um terço da população Peruana, e uma superfície de 2.664,67 km2, sendo que a Grande Lima se estende por mais de 100 km ao longo da costa, abrangendo mesmo o porto de Callao, o principal do Peru.
Esta realidade, bem como os factores de clima e atmosféricos já mencionados, juntamente com um intenso tráfego automóvel, constituído por largos milhares de viaturas que diariamente percorrem as artérias da cidade, entre os quais se inclui um número bem significativo de veículos já antigos, fazem com os níveis de poluição em Lima sejam muito consideráveis, e, até, algo perigosos para a desejável qualidade do ar que se respira na cidade.
Realmente, quando estive na capital do Peru, apanhei sempre muito trânsito, o movimento de viaturas era muito e constante, e, como foi em Fevereiro, o mês mais quente da cidade, o calor era muito e o Sol marcava presença de um modo inquestionável!
Mas gostei!
Gosto de calor, Sol, e luz, muita luz!
Logicamente, que Lima não tem apenas o seu centro histórico como motivo de interesse turístico.
A cidade, que teve de ser parcialmente reconstruída, quando, como resultado do terramoto de 1746, viu um significativo número dos seus imóveis ser destruído, dispõe hoje em dia de zonas urbanas modernas, que, em termos residenciais, de comércio e de serviços, podem ombrear com o que se encontra em muitas outras capitais de Países desenvolvidos.
Com certeza que é a capital de um País do Terceiro Mundo, com tudo o que isso pode significar, e ciente que os Povos e o seu desenvolvimento não se avaliam e medem por hotéis de luxo, arranha-céus, grandes e ricos centros comerciais, e bons restaurantes, desejo tão só destacar, que o que de interessante existe em Lima, não se confina ao seu centro histórico, e nem toda a sua vida citadina se congregou em seu redor.
Mas, é de toda a justiça sublinhar, que foram a riqueza, a originalidade, a diversidade arquitectónica do citado centro histórico que levaram a que a UNESCO, em 1988, o declarasse como Património Cultural da Humanidade.
Portanto, Lima não é só o seu centro histórico, mas, sem ele, seria, porventura, mais uma cidade grande, movimentada e populosa da América do Sul.
E o que torna a cidade mesmo rica e interessante, é a excelente conjugação dessas duas facetas, a do passado, que inclui ruínas anteriores à chegada dos Espanhóis, bem como velhas e belas mansões, igrejas e conventos, museus e praças, que remontam à época colonial, e a moderna, constituída por outro tipo de construções, que vão desde acolhedores bairros habitacionais até arranha-céus, passando por uma multiplicidade de ofertas de serviços, produtos e funcionalidades, característica das sociedades contemporâneas.
Visto que no período anterior, afirmei que em Lima se podem encontrar ruínas anteriores à colonização Espanhola, será oportuno referir que na área existiram diferentes culturas pré-colombianas, sendo a Huaca Pucllana, recinto arqueológico que foi um importante centro cerimonial da sociedade que se desenvolveu na costa central Peruana entre os anos 200 e 700 da nossa era, um importante testemunho desses tempos remotos.
Este complexo arqueológico está localizado no coração de Miraflores, talvez a zona mais cosmopolita da Lima moderna.
Nas próximas “NOTAS DE VIAGEM” Lima será novamente o tema, fazendo então uma breve “visita” aos locais de interesse turístico que considerei mais significativos, e, escreverei ainda sobre alguns detalhes da vida da cidade que considerei interessantes.
Rui Oliveira e Sousa
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