Como referi em anterior artigo, Machu Picchu é um dos principais destinos turísticos do Mundo, e são milhares e milhares de pessoas que a visitam todos os anos, sendo esta uma realidade que está a preocupar a UNESCO. Por exemplo, quando no ano 2.000, cerca de 400.000 turistas visitaram Machu Picchu, aquela agência especializada das Nações Unidas manifestou preocupação acerca dos danos que tal volume de turismo poderia causar ao local. Porém, as autoridades Peruanas insistem que não há problema, e que o facto de o complexo estar muito longe, de tudo e de todos, impõe naturais limites ao turismo…
Quando lá estive, havia muita gente a visitar o local! É certo que nem todas as pessoas iam até aos lugares mais elevados, mas lá que eram muitos, mas mesmo muitos, os turistas, lá isso eram!
E, apesar de serem muitos os visitantes, ninguém se atropelava, pois, como já escrevi anteriormente, o complexo é enorme e os pontos de interesse inúmeros, pelo que os turistas se distribuíam por Machu Picchu com algum equilíbrio.
Acresce que está tudo muito bem organizado, e, para visitar o local, existe sempre guia para acompanhar os turistas. Neste particular aspecto, tive sorte, pois tratava-se de uma pessoa bem informada, segura do que estava a dizer e sem preconceitos em relação à história, pelo que não inventou, não insistiu em explicações que não pudessem ser demonstradas, e, quando tal se justificava, não se inibiu de “deixar mal na fotografia” colonizadores e colonizados…
O sector urbano é aquele que merece a preferência dos visitantes, e caracteriza-se por construções, que são em grande parte rectangulares, com entradas e nichos trapezoidais, e, as paredes, levemente inclinadas para o interior dos edifícios.
Os locais que merecem particular atenção são muitos, e, tendo já feito nas anteriores “NOTAS DE VIAGEM” uma abordagem específica à Intihuatana, existem ainda mais alguns sítios que, em meu entender, justificam uma menção especial.
Por exemplo, o Mausoléu Real é uma das construções que deve sempre ser visitada. Está exactamente localizado sob a torre do Templo do Sol e é uma obra com finos acabamentos, harmonia de linhas e arquitectura de formas geométricas. Os Incas esculpiram a rocha que serve como base ao Templo e construíram este mausoléu destinado a uma pessoa de referência na sociedade de então. Refira-se que no local foram descobertos mais de 100 esqueletos, dos quais cerca de 80% eram de mulheres.
O anteriormente mencionado Templo do Sol é outra das construções que justifica uma visita. É uma torre semicircular, bem acabada, e que foi edificada no topo de uma rocha muito grande, finamente polida, e, sublinhe-se, com as paredes construídas segundo o contorno natural da rocha de origem, sendo um dos lugares de Machu Picchu que se destaca pela sua singularidade.
A magnífica e vasta Praça Principal do complexo foi algo que me deu muito prazer apreciar!
É mesmo uma praça muito grande, localiza-se sob a pirâmide Intihuatana, digamos que separa o lado ocidental do lado oriental do sector urbano, e, com certeza, que seria aqui que a população se juntava para seguir os rituais que tinham lugar na já mencionada Intihuatana.
É, repito, um lugar especialmente bonito, imponente, e, com o chão muito verde, tornou-se-me particularmente agradável a visão da Praça.
Outro local de referência que gostei de visitar foi o Templo do Condor, que, igualmente localizado no sector urbano, é também conhecido como a Prisão do Complexo, por causa das masmorras subterrâneas que possui.
Escrevi sobre lugares que me tocaram mais em Machu Picchu, e que julgo possuírem um charme especial, todavia, muitas mais construções poderiam justificar uma particular apreciação, como, por exemplo, o Templo Principal, a Praça Sagrada, o Templo das Três Janelas, a Câmara dos Ornamentos ou a Rocha Sagrada, mas, repito, cingi-me aos que gostei mais.
De sublinhar, também, que quando visitamos a “Cidade Perdida dos Incas”, estamos sempre “sob a vigilância” da Huayna Picchu, cujo significado é “montanha jovem”, que, estando ali mesmo em frente a nós, e sendo a sua altitude bem superior à de Machu Picchu, o seu ponto mais alto está a 2.700 metros acima do nível do Mar, parece assumir-se como uma vigilante que tutela a vida do complexo…
Aliás, um pouco nesta linha, pensa-se que os Incas escolheram aquele sítio para ali edificarem Machu Picchu, pelo carácter único da sua localização e pela sua morfologia geográfica-geológica.
Diz-se que a silhueta da montanha atrás da do complexo representa a face do Inca olhando em direcção ao céu, com o pico mais alto, Huayna Picchu, representando o seu nariz…
Depois de uma maravilhosa visita a Machu Picchu, que, como referi no anterior artigo, foi sempre acompanhada pela chuva, voltei a Aguas Calientes a fim de almoçar, e, mais tarde, apanhar o comboio para regressar a Cusco.
Penso que será oportuno esclarecer, que Aguas Calientes é a denominação incorrecta da aldeia de Machu Picchu, cujo distrito com o mesmo nome foi criado em 1941!
Trata-se de um local que vive do Turismo, dispondo de hotéis, restaurantes, locais de produção e venda de artesanato, do ecoturismo e de múltiplas atracções turísticas, tais como o Santuário, os Banhos Quentes, as Comunidades Índias, o complexo arqueológico de Wiñayhuana e as altas montanhas de Putucusi e Huayna Picchu.
A localidade, que se situa a cerca de 8 km das ruínas de Machu Picchu, é procurada, fundamentalmente, para se ter acesso à “Cidade Perdida dos Incas”, mas também pelas propriedades medicinais que têm as suas águas, que, sulfurosas e com uma temperatura média de 42 graus, são especialmente indicadas para o tratamento de reumatismo, doenças relacionadas com os rins e problemas nas articulações.
Naturalmente, que são estas mesmas propriedades das suas águas, designadamente, a temperatura e o carácter termal, que acabaram por conferir o nome à povoação, Aguas Calientes.
Quando cheguei ao restaurante para almoçar, já a tarde avançava.
O restaurante era amplo, limpo, com boa comida e serviço assegurado por uma jovem Peruana eficiente e simpática.
Sentei-me próximo da janela, situada mesmo junto ao Rio Urubamba, que corria com grande caudal, de um modo muito intenso, violento, parecendo querer saltar das margens, configurando mesmo algo de selvagem!
Tive a companhia de dois colombianos, relativamente jovens, que conhecera aquando da visita a Machu Picchu.
Foi um almoço agradável, já quase mais lanche que almoço (…), a conversa fluiu à volta de viagens e dos nossos Países, e, logicamente, que eles disseram que a Colômbia não era um País perigoso, apesar da insegurança ser um denominador comum a todos os dias…
Com o presente artigo concluo o conjunto de textos dedicado a Machu Picchu, estando convicto, que por mais que tenha tentado transmitir o que de muito belo e de verdadeiramente espectacular encerra o lugar, ficarei sempre aquém da dimensão grandiosa que tem a “Cidade Perdida dos Incas”!
Já visitei muitos lugares que testemunham o período Inca na América do Sul, e, apesar das peculiaridades próprias e dos respectivos enquadramentos de cada um desses sítios, Machu Picchu é mesmo o ex-libris do Império Inca.
Estando quase a concluir esta série de “NOTAS DE VIAGEM” onde tenho vindo a abordar a deslocação que fiz à América do Sul em 2006, parece-me ser esta a altura adequada para fazer um último sublinhado sobre a importância e o carácter inovador que revestiu o Império Inca.
A nação Inca, surgiu no sul do Peru, consolidou num curto período de tempo o seu poder em Cusco, e depois, como já mencionado em anteriores artigos, expandiu-se de tal forma, que chegou a abarcar uma área que ia do actual Equador e sul da Colômbia, passando pelos Andes e planalto do Peru e da Bolívia, até ao Chile e norte da Argentina.
O Império Inca, que, para o seu início e queda, tem como datas referência, respectivamente, os anos de 1197 e 1572, desenvolveu técnicas muitíssimo avançadas, nomeadamente, nos domínios da construção de edifícios, pontes e estradas, arquitectura, agricultura, sistemas de irrigação, registando-se ainda importantes descobertas farmacológicas, e, até, a criação de uma rede de serviços postais, recorrendo para tal ao já mencionado Caminho Inca.
Sob o lema imperial, ama llulla, ama suwa, ama qilla (não roubarás, não mentirás, não serás mandrião) viveram cerca de 15 milhões de pessoas, numa área superior a 2 milhões de km2, e, apesar da colonização espanhola ter facetas que configuraram posturas selvagens, obscurantistas, estúpidas, gananciosas, que, principalmente, procuraram destruir e delapidar o Império Inca, passados cerca de seis séculos, os testemunhos deixados pelos Incas na América do Sul ainda são inúmeros, principalmente no Peru.
E Machu Picchu é mesmo a mais significativa e a mais imponente herança desse formidável Império Inca!
No próximo artigo o tema será Lima, a capital do Estado Peruano.
Rui Oliveira e Sousa
Abril de 2007
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