Tal como escrevi no primeiro artigo dedicado à visita que, no ano passado, fiz à América do Sul, naquela oportunidade também visitei o Peru.
Foi interessante contactar directamente com a realidade de um País, que, até então, apenas conhecia através de órgãos de comunicação social e de livros.
Todavia, o que considero verdadeiramente inesquecível, foi a minha primeira vivência sob os efeitos da altitude, bem como, e na mesma ocasião, as visitas que fiz a Cusco e a Machu Picchu, pelo que com estas “NOTAS DE VIAGEM” iniciarei a abordagem àquelas experiências.
Saí bem cedo de Lima a caminho de Cusco, e, quando mais tarde aterrei no Aeroporto Internacional Alejandro Velasco Astete, estava Sol, céu com algumas nuvens e uma fresca brisa matinal.
Refira-se que o tempo em Cusco é por norma relativamente ameno, tendo uma temperatura média que varia entre 11 e 13 graus centígrados, podendo nos dias mais soalheiros atingir os 20o C.
Ainda, e somente por curiosidade, dado que presentemente em Portugal, uma das matérias mais faladas e polémicas é a construção do novo Aeroporto da Ota, sendo apresentadas como justificações, o facto da Portela estar congestionada, não admitir expansão, e se encontrar no centro de Lisboa, o Aeroporto de Cusco também se localiza no centro da cidade.
Sublinhe-se ainda, que Cusco é a principal atracção turística do Peru, sendo o seu aeroporto o de maior tráfego aéreo no sul do País, e a cidade é também centro importante do circuito turístico sul-americano, onde se situa uma das mais famosas ruínas do Mundo, Machu Picchu.
Perante este conjunto de realidades, há já algum tempo que se fala em construir um novo aeroporto fora do perímetro urbano de Cusco, e assim desactivar o actual. Contudo, ao contrário do que sucede em Portugal, onde o Governo afirma ter solução para “pagar” o astronómico custo do novo Aeroporto da Ota, as autoridades Peruanas ainda não concretizaram este projecto, devido à falta de recursos financeiros…
Retomando a minha visita a Cusco, desejo ainda acrescentar que, juntamente com um tempo agradável, também logo à chegada, e quando saía do aeroporto, me deparei com outra surpresa positiva – várias jovens do Turismo da cidade, aguardavam os visitantes, a fim de, se necessário, lhes prestar apoio logístico e dar informações de carácter turístico.
Que me recorde, foi a primeira vez que ao chegar a um destino desta índole, encontrei colaboradores do Turismo local a acolher os visitantes.
Só que, algum tempo mais tarde, estas realidades agradáveis que me esperavam em Cusco, o tempo e as pessoas do Turismo, foram completamente ultrapassadas pelos efeitos da altitude no meu corpo…
Alojei-me num óptimo hotel de uma conhecida cadeia mundial, situado no centro arqueológico de Cusco, que, instalado numa casa colonial construída no início do século XVI, durante a época de Pizarro, foi agora muito bem adaptada à nova utilização.
Ainda no estabelecimento hoteleiro, comecei a sentir algum cansaço…
Bebi logo chá de coca, duas chávenas, visto dizerem ser um bom preventivo para os efeitos da altitude.
Pois, mas o chá de coca não era, nem nunca foi suficiente!
Fui dar uma volta pela cidade e arredores, e, a partir de certa altura, começou mesmo a ser difícil…
Sentia-me cansado, tinha alguma dificuldade em respirar, custava-me subir elevações de terreno ou escadas – eram sintomas inequívocos do efeito da altitude no meu organismo.
A cidade de Cusco está localizada a mais de 3.300 metros acima do nível do Mar, sendo portanto, uma das que se situa mais alto em todo o Mundo, e o “Soroche” ou a doença da altitude começa por significar falta de oxigénio para as pessoas que, não ambientadas, vão para locais acima dos 2.000 metros.
Ora eu, que nunca tinha estado num lugar a tão elevada altitude, também não tomei qualquer precaução para evitar os efeitos que a mesma me poderia provocar, precauções estas que poderiam ser, descansar todo o primeiro dia de estadia em Cusco, comer pouco, beber muitos líquidos, em especial chá de coca, evitar qualquer tipo de bebida alcoólica, ou até, tomar uns comprimidos que têm uma função preventiva.
Nem fiz o mínimo aconselhável, que seria descansar algumas horas depois de aterrar, caminhar lentamente e não fazer esforços físicos!
Em resumo, passei uns dias algo penosos em Cusco, designadamente, com dificuldades para respirar, bem como para dormir, palpitações e significativo cansaço, mesmo quando fazia curtos trajectos a pé.
Contudo, devo deixar claro, que, por exemplo, não tive dores de cabeça, náuseas, vómitos, perda de apetite, dores lombares, tonturas, problemas de concentração, ou mesmo sintomas mais graves, como edemas pulmonares, problemas na tiróide ou infecções, que caracterizam as manifestações mais agudas de “Soroche” ou doença da altitude.
Foi realmente uma pena ter passado por este “sofrimento”, porque Cusco é uma cidade muito bonita e verdadeiramente interessante, mas, como escrevi, em parte a culpa foi minha, pois não procedi por forma a evitar, ou pelo menos atenuar, os efeitos da altitude.
Limitei-me a beber chá de coca…
Por exemplo, durante a minha estadia, bebi sempre cerveja (com álcool…) e comi uns belos petiscos, com especial destaque para cuy, um pequeno roedor sobre o qual escreverei em outro artigo.
Mais uma vez o afirmo, a cidade é muito bonita, possui belas construções da época da colonização, é rica em testemunhos da cultura pré-colombiana, de que é inequívoca evidência o Templo do Sol Koricancha, e tem edifícios que são autênticos tesouros da arquitectura colonial, como a Catedral e a Igreja da Companhia de Jesus, onde se podem encontrar inúmeros trabalhos da Escola de Pintura de Cusco, que se caracteriza por uma mescla entre o imaginário católico e o pagão.
Em próximas “NOTAS DE VIAGEM” escreverei então sobre os locais, as construções, a comida, as pessoas.
Rui Oliveira e Sousa
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