O Chile, primeiro País que visitei na minha última deslocação à América do Sul, possui um conjunto de singularidades que o tornam diferente.
Vejamos então, algumas dessas singularidades.
Começo pela geografia do País.
Limitado a Este pela Cordilheira dos Andes e, a Oeste, pelo Pacífico, o Chile é uma estreita faixa de terreno, com uma largura média de cerca de 180 km, tendo como limites máximo e mínimo nesta dimensão, respectivamente, 445 e 90 km, enquanto que de Norte a Sul, mede 4.329 km.
Se se considerar o território Antárctico Chileno, até ao Pólo Sul, serão 8.000 km!
A sua extensão continental é similar à distância entre Lisboa e Moscovo, ou então, de Nova Iorque a São Francisco, o que, porventura, permitirá ter uma noção mais aproximada de como o Chile é comprido.
Ainda no que respeita à geografia, é de assinalar que a Ilha de Páscoa, situada a 3.700 km da costa, a meio caminho entre o Continente Americano e os Países da Oceânia, é também território Chileno.
Portanto, as primeiras singularidades do Chile têm a ver com a sua forma, o comprimento e a largura, bem como a “ligação” à Oceânia através da Ilha de Páscoa, ainda que situada a milhares de quilómetros do território continental Chileno.
É pois esta enorme extensão, que explica a grande diversidade de climas e paisagens que se podem encontrar no Chile.
Assim, e exemplificando o anteriormente afirmado, destaca-se que o norte é desértico, resultado da influência de correntes frias, ali se encontrando as principais minas de cobre e de nitratos, a região central de clima temperado, reunindo excelentes condições para a agricultura, e o sul mais frio, coberto de bosques, contando, inclusivamente, com a zona de gelos polares.
Também consequência de condições geográficas e da natureza, encontra-se outra singularidade – a excelência dos vinhos Chilenos e a sua imunidade a pragas, que, por vezes, e quase que ciclicamente, atingem outras regiões do Planeta, também produtoras de vinho.
As castas de elevada qualidade oportunamente levadas da Europa para o Chile, associadas às óptimas características de solo e de clima, designadamente, na zona central do País, fizeram com que hoje em dia, os vinhos Chilenos sejam considerados dos melhores em todo o Mundo, constituindo, em simultâneo, uma boa fonte de receitas, fruto de exportações muito significativas.
O facto da zona central do Chile estar defendida das pragas que habitualmente incidem nas videiras – a Norte pelo deserto de Atacama, a Este pela Cordilheira dos Andes, a Oeste pelo Oceano Pacífico e a Sul pela extensão da Patagónia e pela Tierra del Fuego com os seus gelos – é uma singularidade determinante para o mencionado no período anterior.
Assim, com defesas destas, não há filoxera que afecte a produção dos bons vinhos do Chile…
Outra singularidade é constituída pelas suas diversificadas riquezas.
A exploração Mineira é a indústria mais importante do País.
É de sublinhar que o Chile possui um quarto das reservas mundiais de cobre, sendo o principal exportador deste minério, situando-se ainda em oitavo lugar na produção de ouro.
A seguir à Agricultura, que é o segundo domínio de actividade do País, seguem-se as Pescas.
O Chile é o principal produtor de pescado da América Latina, e o quinto a nível mundial.
Em quarto lugar surge a indústria Florestal, e em quinto a do Turismo.
Ou seja, todas as principais indústrias e fontes de riqueza do País estão intimamente ligadas à natureza – os recursos do subsolo continental, bem como os do mar, conduziram à existência de pujantes indústrias Mineira e das Pescas; as condições climatéricas e os solos deram lugar a uma Agricultura rica e a uma significativa indústria Florestal; o desenvolvimento cada vez maior do Turismo foi determinado por tudo o que de belo e diversificado a natureza proporciona no Chile.
Ainda, e em minha opinião, outra singularidade Chilena está relacionada com a sua Literatura, designadamente, a projecção mundial alcançada por Pablo Neruda.
Antonio Skármeta, Francisco Coloane, Pablo de Rokha, Luís Sepúlveda, Gabriela Mistral, Hernan Rivera Letelier, Vicente Huidobro, Raul Diaz Eterovic, Isabel Allende, Nicanor Parra, são exemplos de escritores Chilenos de elevado valor, muitos com reconhecida reputação internacional, mas, apenas Pablo Neruda atingiu uma notoriedade planetária deveras significativa!
Gabriela Mistral também foi Prémio Nobel, em 1945, antes portanto de Neruda ter recebido tão honroso galardão, o que aconteceu em 1971, contudo, só este conseguiu um prestígio quase que inquestionável.
Não sou um conhecedor de Poesia, mas sendo um “consumidor quase compulsivo” de livros , procurando estar atento ao que se passa, e passou, no domínio da Literatura, penso ser por demais evidente que Pablo Neruda atingiu um especial estatuto nesta arte.
E no Chile, existe quase que um culto ao Poeta – três casas que foram suas, com especial realce para a de Isla Negra, que se situa a cerca de 120 km de Santiago do Chile, e que não é uma ilha, são destino de permanentes romarias, quer de nacionais, quer de estrangeiros.
Poderia equacionar diversas explicações para a singular notoriedade de Pablo Neruda, todavia, tenho a certeza, que as principais serão a Qualidade e a Excelência da sua Poesia.
A sua dimensão terá sido, porventura, muitíssimo bem traduzida por um graffiti em tempos escrito na Isla Negra, “Neruda não é chileno, o Chile é nerudiano“!
Pablo Neruda, talvez o poeta mais popular do século XX, é pois, mais outra singularidade do Chile.
Penso existirem ainda mais algumas singularidades, que, inequivocamente, demonstram que o Chile é diferente, mas entendo que devo ficar por aqui.
Nos próximos artigos irei abordar algumas das matérias que julgo serem das mais interessantes, e que estão relacionadas com a minha recente estadia neste País Latino-Americano.
Rui Oliveira e Sousa
Agosto 2006
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