Novamente a Bolívia e concluindo…

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Concluo hoje o conjunto de textos que tenho vindo a escrever sobre a Bolívia.

Como penso que se pode concluir dos anteriores artigos, fiquei encantado com este País, que, tendo graves problemas de desenvolvimento, possui uma grande riqueza cultural, espectaculares e muito belas paisagens, e, ainda, inúmeros testemunhos de misteriosas civilizações antigas, bem como um povo muito hospitaleiro.

Quando antes de visitar a Bolívia, falava com amigos sobre esta deslocação ao País mais pobre da América do Sul, muitos deles me comentavam que o Paraguai ainda era mais pobre.

Pois, mas não é!

Nunca estive no Paraguai (juntamente com a Colômbia e o Equador, é um dos três Países que ainda não visitei na América do Sul), contudo, consultando o Relatório relativo a 2005 do IDH-Índice de Desenvolvimento Humano, publicado pelo PNUD-Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, verifico que os indicadores deste País são bem melhores que os da Bolívia.

A Bolívia, como já antes escrevi, ocupa a 113ª posição entre os 177 Países constantes no mencionado documento, enquanto que o Paraguai está em 88º lugar.

O PIB per capita da Nação Andina é USD 2.587, mas o do Paraguai é bem superior, USD 4.684, sucedendo o mesmo com outros indicadores, em que este último País está sempre melhor (Esperança de Vida – Bolívia: 64,1 anos / Paraguai: 71 anos; Taxa de Literacia, acima dos 15 anos de idade – Bolívia: 86,5% / Paraguai: 91,6%), e, apenas na Taxa de Envolvimento Escolar a Bolívia está melhor, 87% contra 73% do Paraguai.

Refira-se também, que os outros dois Países ainda não por mim visitados, no IDH também estão melhor que a Bolívia (o Equador ocupa a 82ª posição e tem como PIB per capita USD 3.641, e a Colômbia está em 69º lugar, tendo como PIB per capita USD 6.702).

A Bolívia, que é rica em recursos naturais, entre os quais destaco o estanho, o gás natural, o petróleo, o zinco e a prata, que tem uma cultura riquíssima, dispondo de óptimas condições para a indústria do Turismo, é pois um País pobre e subdesenvolvido.

Este Estado Sul-Americano, ao se ter mantido à margem da Revolução Industrial, apostando num modelo de País exportador de minério, mantendo a terra concentrada em poucas mãos, sendo estas duas vertentes suportadas pela exploração de mão-de-obra em condições que praticamente configuraram escravatura, que, mais tarde, no início da década de 90, ganhou a reputação de País produtor de cocaína, e tendo sempre associada a todas estas situações, uma profunda instabilidade política, não conseguiu de deixar de ser um Estado subdesenvolvido, vivendo ainda muito nos moldes da sobrevivência cultural remanescente do Império Inca, com um Povo pobre, mas com uma estrutura familiar forte, que tem permitido enfrentar as múltiplas crises por que o País tem passado.

Só com valores culturais desta índole, é possível conviver com situações como a que existia em 1985, quando Paz Estenssoro chegou à liderança do País: uma inflação anual de 35.000!

Não! Não me enganei a escrever – a inflação era mesmo trinta e cinco mil por cento ao ano!…

Segundo dados relativos a 2004, a percentagem estimada de população Boliviana que vivia abaixo do limiar de pobreza era 64%!

Este País muito pobre, onde, como me dizia Ivar, o guia que me acompanhou na visita ao Lago Titicaca, até se pode comer por 50 cêntimos de Dollar Norte-Americano (!?), tem esperanças que a sua vida possa melhorar num futuro próximo.

As expectativas positivas de muitos Bolivianos baseiam-se em factos, como, por exemplo – os Países do G8, em 2005, terem anunciado um perdão de dívida de dois biliões de USD; a indústria do Turismo possuir todas as condições para se desenvolver exponencialmente; os resultados da nacionalização dos hidrocarbonetos, apesar de, face à complexidade e delicadeza desta medida de Evo Morales, ainda não ser possível quantificar o impacto que a mesma virá a ter na vida do País.

A Bolívia é membro fundador do Pacto Andino, estabelecido em 26 de Maio de 1969, pelo Acordo de Cartagena, com o objectivo de acelerar o desenvolvimento dos Países membros, através da integração económica e social.

Esta União Aduaneira e Económica é formada pela Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia e Chile.

O Chile, com a subida ao poder do General Augusto Pinochet, retirou-se do Pacto.

Em 8 de Dezembro de 2004, os Países membros do Pacto Andino assinaram a Declaração de Cusco, que lançou as bases da Comunidade Sul-Americana de Nações, entidade que unirá o Pacto Andino e o Mercosul em zona de livre comércio continental.

Contudo, até este momento, e no que concerne à vida quotidiana dos Bolivianos, ainda não são visíveis resultados significativos de todos estes envolvimentos multilaterais.

Concluindo, gostei de estar na Bolívia e vou voltar lá.

No próximo artigo, a visita ao Chile será o tema.

Rui Oliveira e Sousa

Junho de 2006

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