A Bolívia, que actualmente tem uma superfície de 1.098.581 km2 (em próximas “NOTAS DE VIAGEM” escreverei sobre os sucessivos episódios históricos, que fizeram com que este Estado Sul-Americano tenha hoje uma área inferior a metade da que possuía, aquando da data de declaração de independência em 1825), é um País interior com três regiões naturais: o planalto, onde vivem cerca de três quartos da População e se concentra a sua riqueza natural (estanho – segundo produtor mundial, prata, zinco, chumbo e cobre), situa-se entre dois ramos da Cordilheira dos Andes; as encostas orientais da Cordilheira, com yungas (que, basicamente, são selvas de montanha, mas com tipos de vegetação muito variáveis, de acordo com a latitude, a altitude e a topografia) e vales, zona subtropical e principal área agrícola da Bolívia (culturas de café, cacau, cana-de-açúcar, coca e banana), que dispõe de jazidas de petróleo; os llanos, que formam planícies tropicais de leste e de norte, com regiões de florestas e de savanas, é uma zona de criação de bovinos e de culturas de arroz, milho e cana-de-açúcar.
Este País tem uma População que se estima ser de quase nove milhões de pessoas, católica (com os cerca de 95% de crentes desta religião, será, porventura, o País mais católico da América do Sul), sendo constituída na sua maioria por Índios, devendo a etnia Quechua significar 30%, a Aymara 25%, os Mestiços (resultado da miscigenação de outras etnias com Índios) 30% e Brancos 15%.
Admite-se que o povoamento desta zona do Planeta se tenha feito através do Estreito de Bering, pelo Alasca.
Durante as últimas glaciações, com a recessão da água dos oceanos, a área do estreito transformou-se numa ponte natural entre a Ásia e as Américas, por onde poderiam ter chegado a este continente os povos que primeiro a colonizaram.
Também se deve ter registado imigração de origem polinésia, evidenciada pela existência de denominações que têm uma total coincidência cultural com o que se pode encontrar naquela zona do Pacífico.
A região que corresponde à Bolívia, desde 2.000 A.C. a cerca de 800 A.C., foi habitada por agricultores, sendo a partir destes, que surge a primeira grande civilização urbana da região, denominada Tiahuanaco, que alcançou o seu apogeu aproximadamente em 200 D.C..
Tiahuanaco deu lugar à formação de uma das civilizações mais importantes da história Americana, o Tahuantinsuyo, também chamado de Império Inca, por volta de 1.100 D.C., que retoma muitos elementos técnicos, culturais, religiosos e económicos da cultura Tiahuanaco.
De Tiahuanaco e Tahuantinsuyo surgem os povos Aymara e Quechua, que, conforme anteriormente escrito, constituem a maioria da população Boliviana, sendo então a área onde hoje se localiza a Bolívia, ocupada predominantemente por Aymaras.
Ainda em relação ao grande Império Sul-Americano dos Incas, é de realçar que o mesmo desenvolveu uma economia baseada na construção em terraços nas montanhas, e na irrigação. Esta civilização, que construiu centros urbanos, uma rede de estradas, bem como uma bem organizada e eficiente administração, adquiriu técnicas notáveis na refinação de metais, bem como no seu trabalhar, e ainda, na arquitectura, tecelagem e cerâmica.
É pois este organizado, rico e desenvolvido Império, que, com a conquista Espanhola, acaba em 1532.
Agora, aquando desta minha deslocação à Bolívia, tive o enorme prazer de visitar o “Lago Sagrado dos Incas”, o Titicaca, e, visto que estive lá no mês de Fevereiro, posso dizer que fui privilegiado pelo clima – é que a região, sendo extremamente fria, entre os meses de Dezembro e Março costuma ter chuva com muita frequência…e eu fui “prendado” com um excelente dia de Sol e céu muito azul, com uma temperatura amena e deveras agradável, e sem qualquer ameaça de chuva!
O Lago Titicaca é partilhado por Bolívia e Peru, formando uma fronteira natural entre os dois Países Andinos, está a 3.810 metros acima do nível do mar, e, sendo o lago navegável situado a maior altitude no Mundo, com 8.30 km2, é também o mais extenso da América do Sul.
Fruto da sua localização e do respectivo enquadramento natural, desde tempos pré-históricos que o Lago Titicaca sempre foi um pólo de atracção para a localização do ser humano.
Vestígios da civilização Tiahuanaco, uma das mais antigas das Américas, que precedeu a Aymara e a Inca, foram encontrados no sudeste do lago.
Quando os Espanhóis lá chegaram, descobriram que os seus arredores eram uma das zonas mais densamente povoadas da América do Sul, e, ainda hoje em dia, a zona continua a ter muitos habitantes.
O Lago Titicaca tornou-se o principal testemunho do surgimento do Império Inca e as suas águas escondem a lenda de Manco Copac e Mama Ocllo, que fundaram a sociedade Inca nas montanhas de Cusco (Peru), de acordo com as ordens de seu pai, o Sol.
Diz também a lenda, que depois da chegada dos Espanhóis no século XVI, os Índios, desesperados por um local seguro para esconder os seus tesouros da cobiça dos conquistadores, decidiram escondê-los no fundo do lago.
Também circularam rumores acerca de ruínas de cidades sob as águas do lago.
Todavia, apesar de, há alguns anos, arqueólogos terem encontrado artefactos a norte da Ilha do Sol, e, mais tarde, em 2000, uma expedição científica ter descoberto o que poderá ser prova da existência de uma cidade submersa no Titicaca, é impossível demonstrar que, no passado, o nível das águas do lago tenha sido mais baixo…
Como anteriormente escrevi, nesta deslocação à Bolívia tive oportunidade de ir até ao Lago Titicaca, pelo que o próximo artigo será sobre um dia bem passado no “Lago Sagrado dos Incas”.
Rui Oliveira e Sousa
Maio de 2006
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