Lisboa vai poder ver uma das mais polémicas exposições sobre o corpo humano, a “Bodies Exhibition”, onde se podem ver 17 cadáveres e 270 órgãos humanos conservados segundo a técnica de polimerização.
A exposição tem levantado críticas de vários sectores, que questionam a origem dos corpos e a forma como são apresentados.
Já os defensores contrapõem com a qualidade técnica e científica e a promoção de comportamentos saudáveis.
O presidente da Comissão Cientifica da exposição ‘O Corpo humano como nunca o viu’, Francisco Castro e Sousa, lembrou que a organização do evento “não é benemérita”, mas ajuda o público a ter “da forma mais real possível” a noção da complexidade do organismo e um comportamento pró-activo em relação à saúde.
“A exposição é de uma enorme dignidade e respeito para com os corpos e pode ser uma forma de estimular comportamentos, prevenir, detectar precocemente e chegar ao objectivo de curar”, referiu.
Outro entendimento tem o director do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, Jorge Costa Santos, ao manifestar alguma reserva sobre a exposição que funciona como “um apelo um pouco mórbido”.
“Visitar a exposição tem por base uma motivação que não é científica, porque não acresce conhecimento. Haverá a satisfação de um apelo visual”, analisou o médico, referindo que o público irá entender a mostra “mais como uma manifestação de arte” com base em material cadavérico e “não se irá sentir identificado”.
“Pode-se dizer que eticamente é abusivo o uso do modelo e técnicas”, disse à Agência Lusa.
Para Costa Santos, as imagens colhidas em cirurgias e presentes na internet de efeitos catastróficos, por exemplo, nos pulmões devido ao fumo do tabaco são igualmente eficazes.
“A exposição não acrescenta nada ao peso de imagens ou simples fotos”, referiu o médico, assumindo, porém, que ver o corpo por dentro suscita sempre curiosidade.
Para o presidente da comissão cientifica portuguesa da exposição, Castro e Sousa, “não há nada melhor para o estudo que o próprio corpo humano” e sublinhou o grande défice de cadáveres nas salas de anatomia.
A exposição também tem sido criticada devido a dúvidas quanto à origem dos cadáveres.
Um farmacêutico do estado norte-americano de Massachusetts (Costa Leste), Aaron Ginsburg, criou um site dedicado ao itinerário da exposição e garante que os corpos foram alugados durante cinco anos por 25 milhões de dólares ao governo chinês.
Esta situação de não propriedade dos corpos deverá levar ao arquivamento de uma queixa judicial contra a Prime Exhibitions, (organizadora da exposição) referiu o crítico, em declarações à Lusa.
Ginsburg coloca ainda a hipótese de os corpos usados serem de prisioneiros, pobres, pessoas sem direitos e solitários.
“É um assunto de direitos humanos”, argumenta o farmacêutico, contrariando os defensores do pendor educacional da exposição: “um argumento na mesma linha seria dizer que um acidente de automóvel promove a segurança rodoviária”.
O presidente do conselho médico e científico internacional da exposição, Roy Glover, tem insistido que apenas são usados corpos de pessoas que morreram de forma natural.
Ao jornal Seattle Post-Intelligencer, Glover afirmou que a universidade médica Dalian, parceira da Prime, recebe os corpos do governo chinês, ao abrigo da lei que prevê que os cadáveres não reclamados possam ser usados para estudos médicos.
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