Fundada em 1870, a empresa Vinhos Justino Henriques, Filhos Lda sempre teve o seu nome ligado à produção de Vinhos da Madeira, sendo uma das mais antigas empresas produtoras e exportadoras de Vinho da Madeira. Em 1981 foi adquirida por Sigfredo da Costa Gomes, que a levou a ocupar um lugar de destaque nos mercados internacionais pela reconhecida qualidade dos seus vinhos. Com 1,5 milhões de litros exportados anualmente, a empresa está claramente vocacionada para a internacionalização das suas marcas, política que contribui decisivamente, para a divulgação e aumento do consumo dos Vinhos da Madeira em todo o mundo.
Esta é uma empresa antiga?
Era uma empresa muito antiga, familiar, pequena empresa, embora qualificada. Decidi fazê-la crescer e em 1993 associei-me ao maior grupo francês de distribuição de bebidas – o La Martiniquaise. Mudamos de instalações, construímos novas, bastante modernas, com modernos equipamentos de vinificação e armazenagem. Contratamos pessoal técnico qualificado e atingimos já há alguns anos, a posição de maiores produtores e exportadores de Vinho da Madeira.
Que importância assume a exportação?
Na exportação, representamos quase 50 por cento da exportação total da Ilha. Temos os nossos vinhos colocados já em 25 países, dos quais, 14 são da União Europeia. Dentre esses, há países muito diversos, como Japão, Rússia, Alemanha, França, Inglaterra, Luxemburgo, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, México e Brasil. Portanto, temos a nossa exportação muito diversificada. Exportamos cerca de 1,5 milhões de litros por ano, o que nos dá a posição privilegiada de termos um controle bastante grande dos mercados.
Quais as metas de exportação?
Há dois aspectos na minha política económica: um é procurar e abri novos mercados, outro é alargar os mercados já existentes e que têm potencial para serem alargados. Os que vejo que têm potencial actualmente são os Estados Unidos, onde o grande consumidor é o americano. O outro é o Brasil, um mercado que eu abri. O Vinho Madeira estava completamente ausente e foi um dos maiores mercados de Vinho Madeira das décadas de 40 e 50. Fui eu que abri o Brasil há quase cinco anos e o país tem um potencial extraordinário para o Vinho Madeira. Estamos a apostar fortemente nele.
Na Europa, temos outros mercados que podem alargar-se mais, como é o caso da Alemanha. A Inglaterra é o mercado número um para os madeiras de muita qualidade, embora não seja já o primeiro mercado consumidor, esse é a França e gabo-me de ser o principal fornecedor do mercado da França. Há outros países, na Europa de Leste, que estão a desenvolver muito bem, como é o caso da Polónia, um país com grande potencialidade. Também iniciamos a exportação para a Rússia, onde já temos importadores, para a Hungria e a República Checa.
O Vinho da Madeira está voltado para o estrangeiro…
Quando cheguei à Madeira, a venda do Vinho da Madeira estava praticamente circunscrito ao mercado local, do turista. Era uma espécie de artesanato. Havia alguma exportação de Madeiras de qualidade principalmente para a Inglaterra e Estados Unidos, mas o resto era exportação de vinho a granel para ser engarrafado nos mercados locais.
Encabecei o movimento para acabar com o granel, felizmente tivemos sucesso porque todos os exportadores compreenderam. Todos fizemos força e conseguiu-se acabar com a exportação do Madeira a granel, que era a morte do vinho a longo prazo. Em finais de 2001 acabou. A partir daí, começou a luta para a difusão do Madeira pelos mercados. Conseguimos provar que essa luta foi frutífera e hoje só falta aumentar ainda mais a exportação. Essa tem sido agora a minha luta: virar para os mercados externos, fazer investimentos na promoção e enviar o mais possível de Madeira para o exterior.
Há apoios a esse investimento?
Há uma coisa muito importante, que é aquilo que poderiam ser os apoios governamentais aos investimentos dos produtos que podem ser exportados. Por razões diversas, os apoios no nosso país praticamente não existem. Hoje, estamos numa situação em que do organismo que deveria apoiar – o ICEP – praticamente não temos qualquer apoio. Agora, cabe às empresas investirem na promoção do produto e convencerem-se que quando estão a fazer promoção não estão a gastar dinheiro. Uma coisa é gastar dinheiro, outra é investir, e o empresário português, principalmente neste ramo, tem que pensar que o investimento é necessário. Isso é algo que temos feito sempre.
Hoje somos talvez a empresa que mais faz investimentos neste ramo, mas estamos certos que temos o retorno desse investimento. Ao longo dos anos temos provado isso. Sem promoção, não se pode por o produto junto do consumidor, seja ele nacional ou estrangeiro, mas fundamentalmente no estrangeiro. Para mim, o mercado local do Madeira não me diz nada, porque a riqueza do Madeira estará na exportação. O mercado nacional, ainda agora foi extraordinariamente limitado, com e restrição do transporte de bebidas alcoólicas nos aviões. Mas isso, na minha opinião, até foi benéfico, porque vai obrigar a que as empresas se lembrem que têm que se virar para o estrangeiro e exportar. Está a ocorrer que, nos mercados exteriores, as lojas de vinhos, estão a dreferir que ultimamente têm tido mais compradores. O turista, que na Madeira é em número muito significativo, volta ao seu país e vai comprar localmente, porque não o pode transportar.
Tem novos mercados em meta?
Todos estes países de Leste que estão a entrar para a União Europeia. São países onde há um alto grau de instrução e que vão ter capacidade de compra. Quanto aos Palop, estão situados em zonas muito quentes, mas não está longe a ideia de irmos para os Palop, principalmente Angola. Com o crescimento fabuloso e a estabilidade que está a ter, acho que no futuro é um país a apostar.
E quanto a novos projectos…
Temos umas instalações modelo e estamos num nível de dimensão que, de momento, satisfaz as nossas necessidades. É provável que ainda possamos aumentar um pouco as nossas exportações. Já estamos a prever para este ano, aumentarmos a nossa capacidade de stock, embora tenhamos o maior stock de Vinhos da Madeira que existe na ilha. Isto implica aumento da capacidade de vinificação, de equipamento, etc. Sabemos que o podemos fazer e temos a certeza que vamos fazê-lo.
Presença contínua no SISAB
Com uma estratégia claramente vocacionada para a exportação, Sigfredo da Costa Campos elege o SISAB (Salão Internacional do Vinho, Pescado e Agro-Alimentar) como o espaço de divulgação das marcas de Vinho Madeira comercializadas pela sua empresa. Presente no certame – que todos os anos tem lugar em Lisboa, no mês de Fevereiro – deste da primeira edição em 1996, o produtor destaca que o SISAB é “a única feira de alimentação e bebidas, tipicamente nacional e com maior dimensão, das que eu conheço”.
Para o empresário, uma das mais-valias do certame é o facto de nele ter iniciado o contacto alguns dos seus melhores clientes importadores, nomeadamente dos Estados Unidos e do Brasil. “Espalhados pelo mundo, tenho outros importadores que também foram contactados no SISAB”, sublinha. Com tantos anos e presença, acabou por eleger assumir aquele Salão Internacional, mais como um meeting point com os clientes internacionais dos seus vinhos. Porém, diz que foi surpreendido na edição deste ano, que decorreu entre 12 e 14 de Fevereiro último. “Na décima segunda edição, esta última, continuei a obter bons clientes para o Vinho Madeira. Este ano arranjei mais dois importadores comunitários, do Luxemburgo e da Suiça. Interrogo-me como é possível, por 12 anos seguidos, continuar a arranjar importadores. Nunca deixarei de ir ao SISAB porque, além de ser um meeting point sei que vou continuar a arranjar clientes”.