A doação das peças, que já se encontram em Portugal, está a decorrer de forma sigilosa de modo a que a sua apresentação pública seja feita apenas quando estiver consumada a transferência para o Museu de Cerâmica, o que poderá acontecer brevemente. Todavia, sabe-se que se trata de uma colecção "excepcional" e singular que engloba um conjunto de peças únicas e de grande valor artístico, que fazem com que seja tanto ou mais importante do que a colecção do comendador madeirense José Berardo. As peças pertenciam a Francisco Coutinho Carreira, português emigrado no Canadá há cerca de 40 anos, recentemente falecido. Sem mulher ou herdeiros directos, Francisco Carreira deixou expresso em testamento o desejo de que os objectos que juntara durante 30 anos fossem entregues ao Museu da Cerâmica das Caldas da Rainha, cidade com a qual teria ligações afectivas. Apesar de nunca ter visitado o espaço, o emigrante foi sensibilizado por um primo, sócio do Grupo dos Amigos do Museu de Cerâmica, para ceder as peças originárias de países como a Alemanha, a Itália, a Dinamarca, a Suécia, a França, a Holanda, a Finlândia e o Canadá. Dos diversos núcleos que constituem a colecção, destaca-se o da Itália, que inclui peças assinadas por relevantes autores cerâmicos, fabricadas de acordo com a tradição e que ainda hoje se enquadram na produção contemporânea, como são os casos de Deruta, Raymor, Mancioli, entre outros de renome internacional; o da Alemanha, que está também bem representado com Rosenthal, Alboth & Kaiser, Ruscha, Carstens, Dumler & Breiden; e o da Inglaterra, com a sua produção de Beswick. Na generalidade, o conjunto é composto por peças "decorativas e utilitárias, com textura fina, únicas e de carácter inovador", que vão enriquecer o museu, transformando-o num mostruário da produção da cerâmica contemporânea mundial no século XX, com peças topo de gama de variadas fábricas. A nova colecção irá juntar-se às outras existentes, provenientes de diversos centros cerâmicos nacionais e estrangeiros, com destaque para a importante colecção de Faianças da Fábrica do Rato e para a segunda maior colecção do País de exemplares de Rafael Bordalo Pinheiro.
Com esta colecção, o espólio do Museu de Cerâmica passa a um total de 15 mil peças, razão por que está a ser equacionada a sua ampliação. Tutelado pelo Instituto Português de Museus, o Museu da Cerâmica foi criado em 1983 e está instalado na Quinta Visconde de Sacavém, conjunto arquitectónico construído na década de 1890 pelo 2.º Visconde de Sacavém, formado por um palacete romântico, rodeado de jardins de traçado romântico. As colecções que alberga representam de vários centros cerâmicos do País e do estrangeiro. Funciona todos os dias, excepto segundas e feriados, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h00.