Era um grande tempo para os jornais. As transformações que ocorriam diariamente na sociedade portuguesa levava a que os emigrantes por todo o mundo solicitassem, ávidos, notícias sobre a situação. Para quem estava no estrangeiro a amealhar e a mandar as economias para Portugal havia sempre notícas perturbadoras e o medo instalava-se junto de alguns dos nossos compatriotas. O jornal tinha aqui uma tarefa tão importante como complicada, mas nunca abdicou do seu papel nem da sua responsabilidade de AGIR SERVINDO.
Como já se afirmou o EMIGRANTE/MUNDO PORTUGUÊS esteve sempre mais além do que simplesmente transmitir notícias, preocupando-se sempre com a informação, mas também com a formação dos seus leitores e de todos os portugueses que no estrangeiro aprenderam a confiar nele. Ora o 25 de Abril veio introduzir a política nos hábitos e na cultura dos portugueses, e realidade até então desconhecida da maioria dos portugueses, tanto dos emigrantes como até dos que cá residiam. Daí que os editores do nosso jornal tenham decidido publicar a “O Povo Quer Saber – Cartilha Política do Povo”, uma brochura onde ao longo de 100 páginas eram explicados conceitos como “campanha eleitoral”, “coligação”, “fascismo”, “nacionalização” etc. num total de mais de 150 expressões e conceitos que tinham entrado decisivamente na linguagem dos portugueses. Tratou-se de uma edição do nosso jornal, elaborada por; José Pires, Paulo da Trindade Ferreira, Maria Helena de Sá Dias e Vítor Melícias Lopes.
Foi um dos grandes sucessos do nosso jornal que os nossos compatriotas solicitaram avidamente, deste forma se ia assumindo, mais uma vez, o papel de grande responsabilidade social que o Emigrante sempre tentou ter na sociedade desde a sua fundação.
a grande batalha dos emigrantes: poder votar
Neste ano começou também mais uma das grandes batalhas do nosso jornal, batendo-se pela concessão do direito de voto aos emigrantes. Escrevia-se na época: “perante esta evidente discriminação, só parece haver um caminho, rever a lei e os seus critérios”… Logo imensos emigrantes se solidarizaram com esta iniciativa, respondendo ao inquérito do jornal, por se sentirem tão portugueses como os que trabalhavam e viviam em Portugal. À frente da comissão que tinha a responsabilidade de elaborar a nova lei eleitoral estava José Magalhães Godinho que o jornal afirmava sempre ter sido um dos maiores defensores do voto dos emigrantes.
A luta continuou e sempre animada pelo nosso jornal criou-se uma sensibilidade tal que o texto da lei eleitoral viria de facto a consagrar o direito ao voto de todos os portugueses, vivessem em Portugal ou vivessem no estrangeiro. Por isso o Emigrante regozijou-se profundamente e afirmou em editorial:
Foi também de grande importância o combate aos boatos que chegavam aos emigrantes e que os atemorizavam relativamente a Portugal. Que já não se podia mandar dinheiro para o país, que as propriedade lhes iriam ser tiradas, que o escudo iria sofrer uma grande desvalorização e mais um sem número de outros disparates. Foi O Emigrante que mais uma vez liderou a informação para o estrangeiro, informando, ensinando e sobretudo tranquilizando tantos milhares de portugueses que viviam diariamente a ânsia das notícias do seu país.
A importância da emigração e a vontade de reaproximar os emigrantes do país foi bastante forte a partir de 1974, daí que logo no primeiro governo provisório tenha sido criada a Secretaria de Estado da Emigração, nessa altura dependente do Ministério do Trabalho. Para titular do cargo foi nomeado o Dr. António Varela, advogado do Porto, natural da Madeira. Politicamente fez parte do Movimento Democrático do Porto onde se pronunciou diversas vezes sobre os problemas da emigração. Pertenceu ainda à Comissão Central do Movimento Democrático Português (MDP) e quando foi nomeado era director-adjunto do semanário “Opinião”.
Chegavam ao mesmo tempo do mundo inteiro chegavam apelos de grupos de portugueses pedindo o completo saneamento do pessoal das embaixadas e consulados. Uma vez mais o nosso jornal assumiu o seu papel de “balizamento” dos anseios dos nossos emigrantes, afirmando a solidariedade com os injustiçados, mas ao mesmo tempo afirmando claramente que “não podemos deixar que se cometam atropelos, e que não se faça justiça cega e indiscriminada. Haja bom senso e distinga-se o trigo o joio, só assim podemos continuar a dar o grande exemplo de civismo que demos na Revolução das Flores”.
Entretanto nesse ano em Portugal os acontecimentos políticos sucediam-se a um ritmo vertiginoso. Depois da tentativa de contra golpe em 28 de Setembro, Spínola demite-se e assume o cargo de Chefe de Estado o General Costa Gomes. É nomeado mais um governo ePedro Coelho é o novo Secretário de Estado Português da Emigração. Em Novembro desloca-se oficialmente a França numa viagem de uma semana, tendo sido a primeira vez que após o 25 de Abril que um representante do governo português ia àquele país. Encontrou-se com o seu homólogo francês Paul Dijoud e visitou os portugueses de Orleãns, Nancy, Saint-Dennis e Boulogne Billancourt.